A explosão que aconteceu no último dia 4 em Beirute, tem sido utilizada pelos petroleiros para ilustrar a dimensão do impacto que um acidente na Refinaria Gabriel Passos (Regap), em Betim (MG) poderia causar. Infelizmente, segundo os trabalhadores, a realidade não é tão distante quanto parece.
Nos últimos anos o quadro mínimo de operadores na Regap, refinaria pertencente a Petrobrás, tem sido abaixo do que o Sindicato dos Petroleiros de Minas Gerais (Sindipetro-MG) considera adequado. E, no último mês, três episódios demonstraram na prática a fragilidade da segurança na unidade.
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A Unidade de Hidrotratamento de Diesel (HDT) por exemplo, que para a entidade deveria operar com seis trabalhadores, hoje conta apenas com quatro. Quadro considerado insuficiente pelo Sindipetro para conter possíveis problemas no local. Alexandre Finamori, presidente do Sindipetro MG, explica que um dos episódios que aconteceram neste mês foi justamente no painel do HDT, onde outros dois trabalhadores tiveram que se deslocar para dar suporte na contenção do distúrbio.
Para a categoria, o pior cenário de tragédia seria no Craqueamento Catalítico Fluidizado (CCF), também conhecido como Secra.
"Uma falha nesse setor pode gerar uma devastação que extrapola a refinaria, chegando até o bairro Riacho das Pedras em Contagem. Só o vazamento da mistura de gás combustível e sulfeto de hidrogênio (H2S) na HDT, pode resultar em uma nuvem tóxica fatal. A contaminação pode atingir um raio de 850 metros, afetando grande parte da força de trabalho e comunidades no entorno da refinaria, como é o caso dos bairros Petrovale, Petrolina e Cascata, em Ibirité", alerta o dirigente.
Redução é reflexo de desmonte
A política de redução no número de funcionários na REGAP, teve início em 2017. Segundo o sindicato, a gerência da empresa afirma que o quadro é baseado em um estudo elaborado pela gestão. No entanto, os petroleiros afirmam que o levantamento foi construído de forma unilateral e que os trabalhadores não tiveram, e até hoje não têm, acesso ao estudo.
Para o Sindipetro, se trata na verdade de uma estratégia para tornar a unidade mais atrativa ao mercado e, juntamente com outras políticas como o incentivo às demissões voluntárias, integram o plano de desmonte da estatal. "Estamos reduzindo o número de trabalhadores por unidade e perdendo aqueles colegas mais experientes que detêm mais conhecimentos sobre as unidades", pontua Alexandre.
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Finamori relembra ainda que o cenário atual é o mesmo enfrentado pela categoria na década de 90, quando a empresa enfrentava duros ataques. "Essa mesma estratégia foi feita no governo Fernando Henrique onde levou o afundamento de uma plataforma de petróleo, P-36, onde tínhamos 175 trabalhadores que estavam no local, dos quais 11 morreram", lamenta.
O que diz a gerência
Questionada pela nossa reportagem sobre as denúncias feitas pelo sindicato, a Petrobras afirmou que "a Refinaria Gabriel Passos - REGAP, adota metodologia desenvolvida especificamente para o estabelecimento de critérios e parâmetros técnicos para dimensionamento do número de postos de trabalho de operação" em acordo às normas regulamentadoras 17 e 20. E que sua implantação foi precedida por uma apresentação ao Sindipetro-MG.
Sobre os distúrbios, a empresa alegou que "não identificou qualquer situação anormal, não tendo sido necessário qualquer tipo de remanejamento de efetivo para atendimento".
#PetrobrasFica
Para denunciar o desmonte da estatal, petroleiros de todo Brasil lançaram neste mês a campanha #PetrobrasFica. A campanha conta com a participação de políticos, intelectuais, economistas, movimentos populares e sindicalistas.
Em Minas Gerais uma plenária com a participação de diversas entidades, marcou o lançamento da campanha no estado. Na atividade os participantes discutiram a precarização dos direitos dos petroleiros e a intenção de saída da Petrobrás do estado, com o anúncio de privatização da Refinaria Gabriel Passos- Regap (Betim) e da usina Petrobras Biocombustível - PBIO (Montes Claros).
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Edição: Elis Almeida