Minas Gerais

EXEMPLO A SEGUIR

Campanha incentiva olhar para nomes e vidas por trás dos números do genocídio negro

Iniciativa de BH dá voz ao cotidiano dos profissionais que trabalham o afeto em cada atendimento à juventude

Belo Horizonte | Brasil de Fato MG |
ilustração
A Campanha já publicou um livro, uma série de podcasts, um portal online e disponibiliza conteúdo diário nas redes sociais - Créditos da imagem: Divulgação

A Associação Imagem Comunitária (AIC) e o Fórum Permanente do Sistema de Atendimento Socioeducativo de Belo Horizonte lançaram na terça-feira (22) a campanha Faz Diferença, uma iniciativa que tem o objetivo de continuar denunciando o genocídio da juventude negra, mas a partir de maneiras que humanizem as vidas dos meninos, das meninas e famílias que estão por trás dos números.

O último Atlas da Violência 2020 segue trazendo dados alarmantes como os relatórios dos anos anteriores.

No documento mais recente, os jovens negros estão presentes novamente como as principais vítimas de homicídios no Brasil, além das taxas de mortes de pessoas negras de outras idades e por outros motivos terem apresentado grande crescimento ao longo da última década.

:: Mulheres negras representam 68% do total de mulheres assassinadas no Brasil ::

"Esses números são sempre impactantes mas não geram comoção pública, não geram essa sensibilização nas pessoas. O que a campanha deseja é justamente isso, tratar essas questões pelos afetos, não só pelos protocolos, na tentativa de criar essa corresponsabilidade na população. Não é só olhar para a política pública ou para o que não está funcionando. É, ao mesmo tempo, observar o que cada um pode fazer", explica Isabelle Chagas, colaboradora da AIC.

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Como meio de atingir esses objetivos, a campanha Faz Diferença ouviu mais de 50 trabalhadores da área e ativistas, entre agentes socioeducativos, técnicos, juízes, defensores públicos, educadores e participantes de movimentos sociais, dando visibilidade a cada experiência e saber construído ao longo da trajetória dos profissionais e publicando as conversas em diversas plataformas para incentivar a sociedade a replicar essas ações.

Números são impactantes mas não geram comoção pública, a campanha quer tratar a questão pelos afetos

"Quando conversamos com os profissionais, percebemos que as soluções para defender e acreditar na vida desses jovens passa pelo afeto. É ligar, saber como está, procurar, ter uma conversa... Coisas muito cotidianas que às vezes se perdem quando falamos de estatísticas", diz Isabelle.

A campanha já publicou um livro, uma série de podcasts e disponibiliza, ainda, conteúdo diário nas redes sociais.

Todos os conteúdos são organizados em seis eixos centrais, que a membra da Associação Imagem Comunitária classifica como "convites para se comprometer com a vida". São alguns deles:

- Enxergar as trajetórias. "É um chamado que começa olhando para as vidas que foram perdidas, mas, para chegarmos às vidas que estão aí e impedir que elas tenham o mesmo destino", diz Isabelle.

- Perceber a singularidade. “Quer dizer que todo adolescente é um ser humano singular e nas políticas essas particularidades desaparecem, como um adolescente que entra [no sistema] como ‘ator de ato infracional’".

- Ir para além da oferta. “É humanizar os serviços e os profissionais para que o jovem seja bem atendido, para que aquele serviço seja para ele. Hoje em dia é muito recorrente essa ideia de que a escola, ou o posto de saúde estão lá e é o jovem que não acessa. Deveria ser o contrário. Isso significa que o serviço não está de fato lá. Ele deve ser construído com base na garantia dos direitos previstos na Constituição e no ECA [Estatuto da Criança e do Adolescente], ou seja, o foco é outro”.

- Dialogar com as juventudes. “É conversar com o adolescente, se somar às famílias. A ponta pode ser o profissional, mas a responsabilidade é de todos nós. Os jovens, crianças e adolescentes são de responsabilidade nossa enquanto sociedade”.

- Transformar o ciclo de um destino. “Consiste em pensar em ações práticas. O que podemos fazer? Por exemplo, como deixamos de olhar para o tráfico de drogas como ‘algo que o jovem resolveu se envolver’? Podemos olhar no sentido de trabalho infantil, da falta de oportunidades de trabalho e de educação.

Conheça a campanha faz diferença

https://fazdiferenca.webflow.io/#podcasts

Edição: Elis Almeida