Minas Gerais

DIREITO

Em Viçosa (MG), alunos lutam por cotas para estudantes negros em colégio federal

Nesta terça-feira (29) colegiado do COLUNI UFV decide se inicia ou não debates sobre implantação da política

Viçosa | Brasil de Fato MG |
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O objetivo principal do coletivo é incluir a política de cotas raciais em seu processo de ingresso - Créditos da foto: reprodução

O basta clamado nas ruas de Minneapolis, e que se alastrou por todo o mundo, também ressoou nas Minas Gerais. Inspirados pelos inúmeros protestos antirracistas que aconteceram neste ano, estudantes do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa - COLUNI/UFV, criaram o coletivo Coluni Antirracista.

O grupo, composto por alunos e ex-alunos da instituição, tem como objetivo principal incluir a política de cotas raciais em seu processo de ingresso, que seleciona 150 alunos por ano.

Em 2019, apenas 24% dos estudantes que ingressaram eram negros

Uma das primeiras ações propostas pelo coletivo foi a elaboração de um ofício destinado ao colegiado da instituição. No documento os estudantes afirmam: "vemos como necessário e urgente que haja uma movimentação positiva e enérgica das instituições em busca da diversidade e da defesa dos Direitos Humanos. O que passa, inevitavelmente, por garantir a todos o acesso isonômico ao ensino público, gratuito e de qualidade", declaram em ofício enviado ao Conselho da UFV. O documento é endossado com assinaturas de mais de 60 entidades.

Nesta terça-feira (29), o ofício será analisado em uma reunião entre o colegiado, professores e o Grêmio Estudantil da entidade. Na conversa, a comunidade vai decidir se inicia ou não o debate sobre a implantação da política. Anna Clara Soares que também integra o coletivo, espera que o corpo docente compreenda a importância da pauta. "A gente espera um encaminhamento favorável e ágil. Porque é um tema que já deveria ter sido abordado há muito tempo. Mas estamos otimistas", afirma.

Política de bônus é ineficiente

Atualmente, o processo seletivo para o ingresso no COLUNI conta com uma ação afirmativa de 20% de bônus sobre a nota final para candidatos oriundos de escolas públicas, desde que tenham cursado integralmente o ensino fundamental na rede. Modelo criticado pelos alunos.

"Esse modelo é ineficiente e reforça uma meritocracia que nós consideramos inexistente. Além disso, essa política tem sido insuficiente para incluir alunos negros e indígenas no colégio. Para se ter uma ideia, em 2019, apenas 24% dos estudantes que ingressaram eram negros", pontua Gabriel Pereira Penna Andrade, ex-aluno do colégio e integrante do Coluni Antirracista.

Na avaliação da professora de sociologia Alessandra Tostes, que defende a proposta do coletivo, a ausência de alunos negros na instituição se reflete na formação social dos estudantes.

"A hegemonia na composição dos alunos prejudica o convívio com as diferenças. Acaba acontecendo uma naturalização das desigualdades sociais e raciais e os motivos que levam à essas desigualdades", explica a docente.  "É um reflexo da desigualdade da própria sociedade. Um colégio com alta concorrência e poucas vagas. Os estudantes concorrem com condições sociais muito desiguais", completa.

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Edição: Elis Almeida