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Sem terrinha em movimento: cultivando a vida

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"Nesta vida, pode-se aprender três coisas de uma criança: estar sempre alegre, nunca ficar inativo e chorar com força por tudo o que se quer" - Paulo Leminsk - Foto: Matheus Alves / Levante Popular da Juventude
A concepção e prática que defendemos afirma a criança como um sujeito de direitos

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em seus 36 anos de história e de lutas, está organizado em 24 estados da Federação Brasileira. Atualmente possui cerca de 350 mil famílias assentadas, mais de 70 mil famílias acampadas lutando pela terra.

São cerca de duas mil escolas públicas nos assentamentos e acampamentos, onde estudam cerca de 160 mil crianças e adolescentes, onde estão inseridos os Sem Terrinha. Em potencial, estes dados ainda são baixos, a saber, pela luta constante por escola pública, pelo direito à educação, especialmente a educação básica.

Poderíamos evidenciar também, as vitórias alcançadas na educação de Jovens e Adultos e pelo ensino superior por meio de parcerias entre o Movimento Sem Terra e instituições de ensino superior, na incansável busca da produção do conhecimento para formação do intelectual orgânico.

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Mas o foco aqui é o protagonismo da infância sem-terra. Sem Terrinha é a identidade das crianças organizadas no MST. É uma identidade que diz da consciência de ter direitos, a beleza e a autoestima de ser criança do campo em movimento.

Historicamente, no MST, pelo menos duas necessidades básicas deram origem e provocaram o movimento a olhar para a infância. Uma se deu ainda nos acampamentos, e posteriormente nos assentamentos à medida que as mães começaram a participar, por meio dos grupos coletivos, das cooperativas e associações. A outra com a participação das mulheres na militância, quando se inserem na organização política, desde o local, ao nacional, participando de cursos formais, encontros de formação de formadores e formadoras, das lutas, reuniões, das marchas.

Crianças organizadas no MST realizam todos os anos, em outubro, a Jornada Nacional das Crianças Sem Terrinha

Desta necessidade e da prática do atuar com a infância nasce então o setor de educação, que, busca no dia a dia, aprender com as crianças e também a refletir com os adultos o lugar da infância no movimento. Elaboramos assim uma concepção e uma prática que afirma a criança como um sujeito de direitos.

Como aprendemos com Paulo Freire quando nos diz: “eu acho que uma das coisas melhores que eu tenho feito na minha vida, melhor do que os livros que eu escrevi, foi não deixar morrer o menino que eu não pude ser e o menino que eu fui, em mim” (Freire, 2001, p. 101). 

As crianças organizadas no MST realizam todos os anos, no mês de outubro, a Jornada Nacional das Crianças Sem Terrinha, onde realizam encontros, audiências, plantios, passeatas etc. Neste ano a jornada teve como lema “Sem Terrinha em movimento cultivando a vida”. As crianças Sem Terrinha fizeram encontros e reuniões online, plantaram árvores em espaços comunitários e em seus lotes, escreveram cartas, poemas, desenharam e realizaram uma bonita assembleia nacional.

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As crianças se colocam em Movimento e colocam na pauta, temas como a precariedade da educação no campo, causada pela falta de estrutura nas escolas, reivindicam transporte escolar com segurança, atendimento apropriado para crianças com necessidades especiais, combate às desigualdades de gênero, racismo, pelo fim do fechamento das escolas no campo.

As crianças também denunciaram a situação de violência no campo, exigindo segurança nas áreas de conflitos, reivindicando os assentamentos das famílias acampadas pelo país e a desapropriação das terras concentradas nas mãos de poucos. As crianças também protestaram contra o fechamento, nos últimos 15 anos, de mais de 37 mil escolas do campo em todo o Brasil, e exigiram também melhores condições de trabalho aos educadores e educadoras, direito ao esporte e ao lazer, direito de brincar.

Na Jornada de luta dos Sem Terrinha deste ano as crianças também afirmaram que “Volta às aulas na pandemia é crime!”. Porque o Brasil ultrapassou a marca de 150 mil mortos pelo novo coronavírus e não pode haver dúvidas de que muitas mortes poderiam ter sido evitadas.

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O presidente da república e o governador de Minas Gerais foram negligentes e contribuíram para disseminação do vírus, afirmando que existia um exagero nos cuidados. Neste sentido, fica mais evidente a necessidade de ser discutido o tema sobre o retorno às aulas na pandemia.

Um dos agravantes é convencer o Estado brasileiro de que não há possibilidade de retorno às aulas presencias, de forma segura. Pois as escolas não têm estruturas necessárias para garantir a seguridade dos estudantes e dos trabalhadores da educação. O risco é muito grande já que avós, pais, e mães dos estudantes também estariam expostos ao vírus.

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O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) faz a luta pelo direito à escola pública, gratuita e de qualidade. Mas no momento atual, de grave situação de pandemia, o que cabe continuar fazendo é a luta pela defesa da vida.

Cabe à população brasileira continuar seguindo as determinações da Organização Mundial de Saúde e demais responsáveis, manter o isolamento social e retornar às escolas quando a pandemia estiver eliminada ou controlada, ao ponto de não colocar em risco nosso maior património: à vida. Ano letivo se recupera, vidas não!

Que as vozes dos Sem Terrinha sigam ecoando entre nós, como fizeram durante a jornada: 

Quem são Vocês? Sem Terrinha outra vez. O que que traz? A vitória e nada mais. Esta onda pega? Esta onda já pegou, pra anunciar, que os Sem Terrinha já chegou, já chegou, já chegou!

Brilha no céu a estrela do Che, somos Sem Terrinha do MST! Sem Terrinha em Movimento, por escola terra e dignidade!

Sem terrinha em Movimento: brincar, sorrir, lutar por reforma agrária popular!
 

Sônia Maria Roseno é  graduada em Pedagogia da Terra (UNIJUÍ), mestre e doutora em Educação (FaE/UFMG) e Maxuel Martins da Silva é educador popular e ambos integram o Setor de Educação do MST.

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Edição: Elis Almeida