O Conselho de Administração da Copasa deseja aprovar o pagamento de dividendos extraordinários no valor de R$ 820 milhões para acionistas da empresa. Enquanto isso, mantém condições de trabalho precárias para os funcionários e não cumpre os investimentos em qualidade do serviço anunciados para o ano de 2020, como denuncia o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgotos do Estado de Minas (Sindágua MG).
O levantamento desenvolvido pelo sindicato também revela que o lucro líquido da Copasa de janeiro a setembro foi de R$ 547.741 milhões. Sendo, no terceiro trimestre R$ 240.543 milhões, um aumento de 24,4% em comparação ao mesmo período de 2019. No primeiro trimestre, o lucro líquido da companhia foi de R$ 160.853 milhões e de R$ 146.345 milhões no segundo.
O lucro líquido da Copasa de janeiro a setembro foi de R$ 547 milhões
Aos acionistas da empresa já foram pagas três parcelas. A previsão é que recebam mais R$ 50 milhões pelo quarto trimestre de 2020, além dos R$ 820 milhões extraordinários recomendados pelo Conselho de Administração.
Por outro lado, em reunião realizada no dia 12 de dezembro de 2019, a Copasa aprovou o Programa de Investimentos para 2020 com uma quantia de R$ 853,3 milhões. No entanto, de acordo com relatório divulgado pelo Sindágua, a empresa empregou até o momento apenas R$ 269 milhões, ou seja, 31,5% do total.
Manifestação
Os trabalhadores da Copasa protestam contra essa conta. Nesta quinta-feira (19) às 8h, eles se reúnem em frente à sede da empresa no bairro Santo Agostinho, Belo Horizonte. O Sindágua, organizador do ato, denuncia que o repasse a acionistas, sendo 50,04% de transferência para o Governo do Estado, chega a mais de R$ 1 bilhão somente neste anos. Em nota, o sindicato afirma que o repasse é “um verdadeiro crime" contra a sustentabilidade financeira e a capacidade operacional da empresa.
Falta de investimento, uma estratégia?
"Isso mostra que a empresa está em boa saúde financeira, só que a verba é repassada para os acionistas. Se a Copasa tivesse cumprido o plano de investimento para 2020, ela diminuiria, e muito, o tempo para a conquista da universalidade do saneamento básico em Minas Gerais. A própria direção já admitiu que são necessários R$ 22 bilhões para a universalização. Com os lucros que a empresa vem tendo desde 2015, poderia concretizar a universalização inclusive com os próprios recursos”, afirma Eduardo Pereira, presidente do Sindágua.
Segundo Eduardo, manter a companhia sem investimentos seria uma estratégia do Governo de Minas para fortalecer a ideia de privatização da empresa, desejo já assumido pelo governador do estado, Romeu Zema, do Partido Novo.
“Se a Copasa, através do governo, não melhora os serviços prestados, não os expande, se não os faz crescer junto com a empresa, a população fica insatisfeita. Se, por exemplo, acontece o plebiscito que pode privatizar ou não a Copasa, o povo tenderia a votar na privatização porque do jeito que está não está funcionando”.
“Temos problema em Paracatu todos os dias, em Nova Serrana, em Andradas”
Para ele, “todo mundo entende a importância da Copasa como empresa pública, mas a população não vê retorno para o município”, explica o sindicalista, que cita prefeituras de cidades do interior que já manifestaram descontentamento com a atuação da companhia.
“Temos problema em Paracatu todos os dias, em Nova Serrana, em Andradas. Em Nanuque, 60% das redes são de amianto", reforça. Em 2017, o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu a utilização de amianto em construções como as de rede d’água em todo o Brasil, já que foi comprovado o teor cancerígeno da fibra mineral.
Problema para quem usa, problema para quem trabalha
O Sindágua chama a atenção, ainda, para as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores da companhia. A categoria estaria sem acordo coletivo há dois anos.
“A direção da empresa tenta, desde a primeira rodada de negociação, retirar a garantia de emprego de trabalhadoras e trabalhadores e retirar 20% da participação nos lucros da categoria para repassar para a alta direção”, declara Eduardo.
O Brasil de Fato não obteve resposta da Copasa sobre as questões apresentadas pelo sindicato.
Em reunião ordinária, na quinta-feira (12), na Assembleia Legislativa o deputado estadual Betão (PT) criticou a distribuição de dividendos extraordinários aos acionistas da Copasa, e o endividamento da empresa. "A empresa vai contrair uma dívida de R$ 500 milhões, a ser paga com taxas e juros de mercado, mesmo tendo em caixa R$ 820 milhões”, resumiu o deputado, que chamou as propostas de “estarrecedoras”.
Segundo ele, é dever do governo garantir a prestação de serviços públicos de qualidade no fornecimento de água e na captação e no tratamento de esgoto, por meio da Copasa, mas a administração estadual prefere, na opinião do deputado, beneficiar os acionistas.
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Edição: Elis Almeida