Minas Gerais

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Pandemia e alteridade

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Em meio ao sofrimento e incertezas houve o aumento do altruísmo e compaixão. Mas passada a pandemia... - Créditos: Reprodução
O “eu” não pode existir sem o outro

Alteridade é o reconhecimento e aceitação do que é o outro ou do que é diferente. O princípio fundamental de alteridade é que em sociedade, os indivíduos têm uma relação de dependência uns com os outros. O “eu” não pode existir sem o outro.

Com alastramento das contaminações com o coronavírus, no mundo e em nosso país, a sociedade entrou em pânico, não só pelo medo da morte em massa, mas pela angústia do agravamento das questões sociais e econômicas. Muitos entraram em pânico com a sensação de clausura.

No meio desse sofrimento e incertezas, percebe-se, que houve, por meio das redes sociais e outros meios de comunicação, o aumento de reflexões filosóficas; apelos de caráter religioso; indignação e críticas com relação aos sistemas político, econômico e social e aumento do senso de altruísmo e compaixão.

Dois são os aspectos dessa situação: o instintivo e o cultural. Os animais, a exemplo dos bovinos, quando se sentem ameaçados ou em perigo iminente, eles se ajuntam uns aos outros e tomam atitude de defesa. Passado o perigo cada um se dispersa no pasto, voltando a se reunir à noite.

Já começa a recrudescer a resistência à obrigatoriedade da vacina

Os humanos trazem desde os tempos pré-históricos o instinto de defesa vivendo em grupos familiares e bandos de similares. Mas a cultura levou os humanos a serem muito competitivos e individualistas. Antes, as lutas eram pelo território no qual se acomodava o grupo.

Com a civilização os indivíduos passaram a dominar não só o território, mas também objetos de valor, patrimônio, riqueza. Surgem as guerras, os conflitos, as revoltas e revoluções e as alianças movidas por ideologias.

No século XX, calcula-se que mais de 120 milhões de humanos morreram em guerras. A chamada guerra fria foi uma forma de ataque e defesa verbais, fontes de ódios acumulados até hoje. Mas foi no processo civilizatório que surgiram as ideias e as práticas de convivência pacífica, sociais e altruísticas.

Na hora do perigo os humanos recolhem-se em seus interiores e egoisticamente passam a refletir o quanto o outro lhe é importante e tem valor e que a alteridade precisa ser preservada.

Contudo, passado o perigo, as dificuldades continuam afligindo e cada um trata de acusar o outro pelos males. Haverá quem vai dizer que os cientistas erraram ao já não terem descoberto um remédio preventivo ou curativo; que foram os cientistas que propositadamente determinaram o isolamento social para complicar a situação econômica.

Outros vão dizer que foi esta ou aquela nação que produziu em laboratórios o coronavírus para provocar o atraso nas nações concorrentes e exercer sua hegemonia. Já começa a recrudescer a resistência à obrigatoriedade da vacina, como aconteceu do Rio de Janeiro em 1904, quando extremados conservadores se revoltaram contra o projeto de saneamento do Dr. Oswaldo Cruz.  

Essas falsas ideias serão dadas como as únicas causas da crise econômica e social do Brasil, que na verdade, há quatro anos, em função das práticas do neoliberalismo, vinham provocando desemprego, subemprego, informalidade e empobrecimento da população.

O trauma econômico, político e social causado por esta peste pulmonar não vai redimir a ninguém. Os pequenos burgueses voltarão a ostentar posições e manifestar os velhos preconceitos. Os empresários, que fizeram ingentes doações a hospitais e sistema de saúde, continuarão a exigir a maximização de seus lucros, com sacrifício dos trabalhadores e isenções fiscais.

Estado máximo para garantir segurança e certeza de lucros; Estado mínimo para o restante da sociedade, privatização do ensino, da saúde pública e das empresas mistas.

Tudo como antes no quartel de Abrantes.

Antônio de Paiva Moura é docente aposentado do curso de bacharelado em História do Centro Universitário de Belo Horizonte (Unibh) e mestre em história pela PUC-RS.

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Edição: Elis Almeida