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Kalil e Câmara de Vereadores: como fica o cenário político após eleição municipal

Robson Sávio analisa a nova configuração da política na capital mineira, tendências, possíveis alianças e embates

Belo Horizonte | Brasil de Fato MG |

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Alexandre Kalil foi reeleito para comandar a capital mineira - Foto: Amira Hissa / Prefeitura de Belo Horizonte

Crescimento da centro-direita como tendência em Belo Horizonte e em todo o país, baixa de Zema (Novo) e Bolsonaro (sem partido), Câmara de Vereadores renovada mas conservadora, Kalil (PSD) como principal liderança política para o governo de Minas em 2022, aumento do número de mulheres eleitas e "caciques" de partidos perdendo espaço para novos modelos de representação.

Essas são algumas das conclusões da análise do pesquisador, professor e coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos (Nesp) da PUC Minas, Robson Sávio Reis Souza, sobre o resultado das eleições na capital mineira. 

O especialista chama a atenção para a potência de aliança entre candidatas mulheres na Câmara e para a diversidade de vereadoras que irá ocupar as cinco cadeiras dos partidos progressistas - PSOL, PT e PDT.

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O que levou Kalil à vitória no primeiro turno, com 63% dos votos

“Primeiro, uma administração bem avaliada. Segundo, um baixo índice de rejeição. Em terceiro foi o Kalil ter tido uma boa administração tanto da pandemia quanto das enchentes no início deste ano - as pesquisas indicam isso.

Em quarto está o fato de Kalil ter uma ampla aliança com partidos de centro-direita. Essa aliança, bastante robusta, favoreceu um arco partidário importante para essas eleições, inclusive de tempo de televisão e de base para sustentação do governo”.

Kalil, uma das principais lideranças políticas para o Governo de Minas em 2022

“Sem dúvida o Kalil se credencia como a principal liderança política em Minas para a disputa do governo. Em primeiro lugar, pela baixa aprovação tanto do governador Romeu Zema quanto do presidente Bolsonaro.

Essa aliança do Kalil é de centro-direita, está de acordo com o crescimento desse espectro partidário em todo o Brasil e em Minas Gerais. Uma parte dessa aliança envolve segmentos do PSDB, hoje liderados pelo senador Anastasia, que é do PSD. Ele faz parte desse grupo.

O Kalil é muito bem avaliado na capital e, historicamente, prefeitos da capital concorrem ao Governo do Estado. Alguns deles com êxito. Ser prefeito na capital é uma ‘credencial’ para se tornar governador. Kalil começa uma segunda gestão com alta aprovação, tem esse arco de aliança político-partidária que condiz com aquilo que as urnas mostraram nessas eleições, que é o fortalecimento da centro-direita. Ele se qualificou muito para disputar 2022”.

Kalil deve manter mesma linha em segundo mandato

“Essa administração do governo Kalil deve manter boa parte do seu secretariado. É um governo que, apesar do arco de aliança ser de centro-direita, consegue um bom relacionamento com outros setores da sociedade. Alguns movimentos sociais ligados às esquerdas possuem boa interlocução com Kalil.

Digamos que existe alguma abertura para esses segmentos da população mais vulnerável. O Kalil deve manter essa característica. Isso fez com que ele tivesse uma excelente votação em Belo Horizonte, uma cidade em que 30% do eleitorado é petista”.

Câmara de Vereadores: 80% conservadora

“É uma Câmara que teve uma renovação de mais de 50%, mas uma renovação dentro desse espectro da centro-direita. Dos vereadores, 80% estão dentro desse espectro, a começar pelo próprio PSD, partido do Kalil, mas também tem o Novo e outros.

Tivemos vereadores que mudaram para partidos desse campo político também. Então, é uma Câmara conservadora, que não deve mudar muito o tipo de atuação da última legislatura, que foi pífia”.

Das cinco cadeiras feitas pela esquerda na Câmara, cinco são mulheres

Foram eleitas Bella Gonçalves (Psol), Duda Salabert (PDT); Iza Lourença (PSOL); Macaé Evaristo (PT) e Sônia Lansky (PT). O número de cadeiras não muda de 2020 para 2021, mas o gênero sim.

“Agora são 11 mulheres na Câmara, o que configura 27%. Dessas 11, cinco são do campo progressista. Eu considero que a Duda, do PDT, ainda é do campo progressista, apesar de existir uma discussão sobre isso.

Além de uma mulher trans [Duda], você tem mulher lésbica, mulher negra. A novidade é essa potência das mulheres. Eu penso que se esse grupo conseguir fazer uma aliança com as mulheres da centro-direita, que podem eventualmente ter abertura para discussão de políticas sociais, podemos ter um movimento muito interessante na Câmara Municipal de BH.

Eu aposto muito na capacidade dessas cinco mulheres do campo progressista, pela experiência que elas têm, de tentar liderar esse movimento. Mas não há nenhuma dúvida de que a Câmara de Belo Horizonte ainda está ‘mais conservadora do que sempre’”.

Novos modelos de representação ganham força

“Vimos, não somente em Belo Horizonte, que os coletivos de gênero, urbanos, juvenis e de questões etnicoraciais têm se associado em movimentos potentes, produzindo boas coalizões para disputar eleições. Esses grupos são bem articulados e se mostram em várias outras cidades médias e grandes do estado.

Tem se tentado uma espécie de saída da lógica partidária, porque mesmo os partidos de esquerda possuem lógicas muito pouco porosas para essas novidades. Os coletivos possuem capilaridade e produção de discussão, o que explica esse fenômeno de mulheres, jovens e LGBTs eleitos.

Um caso como esse em Belo Horizonte é o da Iza Lourença, que acabou entrando no lugar de vereadores que possuíam trajetórias em partidos. Ou seja, é um novo tipo de organização, que acaba superando caciques partidários”.

Edição: Elis Almeida