Mais de 500 pessoas da comunidade de Socorro, em Barão de Cocais (MG), vivem fora de suas casas desde fevereiro de 2019, quando a barragem Sul Superior da Vale foi considerada insegura.
Agora, cerca de 10 famílias da comunidade São José de Brumadinho, também em Barão de Cocais, recebem o anúncio de que a mineradora irá desalojá-las também. Os moradores estão em intensa luta contra a falta de informações e a insegurança.
Segundo a divulgação da Vale, a mineradora iniciou em 18 de novembro um protocolo de emergência de nível 2 da barragem Norte/Laranjeiras, da mina Brucutu. E, com isso, inicia a remoção de residentes da Zona de Autossalvamento, estimados em 34 pessoas. A barragem fica acima da comunidade de São José de Brumadinho. Moradores afirmam que a Defesa Civil Municipal deu o prazo de 20 dias para que todos se retirem.
O integrante do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Luiz Paulo Siqueira, relata que o desalojamento está sendo um choque para a comunidade, que tem muitas famílias agricultoras e produtoras de leite, inclusive abastecedores do Lacticínio Cocais. A igreja de São José de Brumadinho, construída em 1742 e famosa na região pelo milagre de São José, também está dentro da área “desalojada”, assim como o cemitério.
Vale usa estratégia para se apoderar de território
Luiz Paulo levanta uma série de contradições na postura da mineradora. A barragem Norte/Laranjeiras não atestou estabilidade à Agência Nacional de Mineração desde março de 2020. “Por que a decisão de elevar a barragem ao nível 2 e desalojar as famílias aconteceu só agora?”, questiona. Além disso, a mina Brucutu continua em funcionamento, segundo ele, com as explosões ocorrendo normalmente.
“Há muitos anos a Vale quer ter o controle completo desse território, e nunca conseguiu”
“Há muitos anos a Vale tem um projeto de ter o controle completo desse território, e nunca conseguiu”, argumenta Luiz Paulo. Pelo menos desde 2008 a comunidade local resiste às investidas da mineradora de construir um complexo de três barragens, envolvendo duas que já existem e uma terceira a ser construída.
O vídeo “Quanto Vale a Nossa Fé”, feito há 12 anos, mostra que a mobilização política e religiosa da comunidade de São José do Brumadinho contra a mineradora é antiga.
Sair e não levar nada ou ficar?
As famílias de São José de Brumadinho estão decepcionadas em terem de sair do seu território. Elas têm o exemplo do que vem acontecendo com os moradores de Socorro, também em Barão de Cocais, que estão há um ano e nove meses fora de suas casas e sem seus terrenos para plantação, criação de animais e outras atividades econômicas.
No entanto, há quinze dias o desembargador Marcelo Rodrigues, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), aceitou pedido da Vale para cortar todas as ajudas de custo a esses moradores. A decisão foi considerada pelos moradores como um ultimato: a mineradora tenta comprar todos os terrenos e, sem o auxílio emergencial por mês, as famílias são mais pressionadas a fechar uma negociação com a mineradora.
Em São José de Brumadinho, as famílias requerem, antes de serem desalojadas: uma auditoria independente para produzir informações que não passem pela Vale; que a mineradora dê prazos de quando a comunidade irá voltar ao território; quais serão os critérios de negociação; que a barragem de Norte/Laranjeiras seja descaracterizada; e um projeto para não perder o santuário de São José.
A mineradora Vale foi procurada pela reportagem, mas não respondeu até o fechamento da matéria.
:: Receba notícias de Minas Gerais no seu Whatsapp. Clique aqui ::
Edição: Elis Almeida