Com quase 700 moradores, a comunidade Tejuco, em Brumadinho, enfrenta um grande dilema: seu único reservatório de água está contaminado com elementos químicos nocivos à saúde. A população local atribui o problema à mineradora Vale, proprietária da barragem rompida há dois anos, completados nesta semana.
A Associação e a Comissão da Água do Tejuco contrataram em dezembro passado um estudo sobre a qualidade da água do ponto de captação que supre a comunidade. A averiguação foi realizada pela consultoria Acquaveras em 12 de dezembro. O laudo com as conclusões foi concluído no dia nove deste mês.
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Foi constatado significativo volume de substância nocivas. Em cada litro de água que há no reservatório foram encontrados 0,335 miligramas (mg/L) de alumínio. A quantidade máxima que pode haver é quase duas vezes menos.
A nossa comunidade era autossuficiente. Todo o nosso abastecimento era do reservatório
Ainda em cada litro de água foi detectado uma porção de 1,436 mg/L de ferro. Isso é quase cinco vezes o valor máximo permitido. O outro elemento químico verificado foi o manganês. Em cada litro há 0,165 mg/L dessa substância, o que representa 60% a mais em relação à quantidade máxima autorizada.
Os valores máximos das porções de substâncias químicas que podem conter na água destinada ao uso humano no país são estabelecidos pelo Ministério da Saúde. A portaria de consolidação número 5, de 2017, apresenta tais quantitativos.
Tendo como base um litro de água, segundo a norma, pode haver apenas: 0,2 mg/L de alumínio; 0,3 mg/L de ferro; e, 0,1 mg/L de manganês. Segundo cientistas, quantidades elevadas desses materiais podem ocasionar sérios danos à saúde. Por exemplo, complicações nos órgãos do corpo bem como acarretar em doenças, como cânceres.
De acordo com um morador, membro da Comissão da Água, que preferiu o anonimato por possíveis retaliações, a situação do reservatório decorre indiretamente do rompimento da barragem da Vale em 2019. Após o ocorrido, a empresa abriu próximo ao Tejuco uma nova estrada em razão das outras estarem obstruídas por causa dos danos da tragédia. Com isso, começou um intenso fluxo de caminhões e pessoas, o que gerou impactos no reservatório. Por exemplo, ele tornou-se mais exposto aos minérios que escapolem dos caminhões que os transportam.
Dependência
Ainda segundo a fonte, a Vale realizou uma obra no ponto de captação de água para atenuar os efeitos gerados pela rodovia. “Mas, o trabalho foi mal feito. A obra era para impedir a infiltração de elementos químicos, como ferro. Mas isso não ocorreu. Depois disso o que vimos foi lama ao abrir as torneiras de casa”, relatou.
Durante dois dias a comunidade ficou sem abastecimento no mês passado. Desde então, a mineradora distribui água engarrafada aos moradores e envia caminhões pipas. Porém, a população de Tejuco se queixa da situação uma vez que tais medidas não são satisfatórias.
“A nossa comunidade era autossuficiente. Nós não recebíamos água da Copasa. Todo o nosso abastecimento era do reservatório”, completou o morador. Hoje em dia os moradores pleiteiam com a Vale a instalação de um poço artesiano. Contudo, muitos temem que todo o lençol freático da região esteja contaminado.
A Aedas, Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social, acompanha a situação e tentar dar apoio aos moradores do Tejuco. Thomas Parrili, geografo e coordenador da área Socioambiental da entidade, afirma que o caso do reservatório pode ter outras motivações também. “Existe uma intensa exploração minerária naquela região. E em Brumadinho existem casos similares ao de Tejuco, como na comunidade Parque da Cachoeira”, afirmou Thomas. Segundo ele, a Aedas comunicou a questão de Tejuco à Defensoria Pública de Minas.
A reportagem solicitou à Vale um posicionamento, não recebido até a finalização do texto nesta quarta (27).
Edição: Elis Almeida