Não abrimos mão da segurança sanitária. Escola aberta só com controle da pandemia
Quem sempre esteve na luta pela qualidade da educação está angustiado com as consequências pedagógicas, sociais e econômicas da pandemia de covid-19 que fechou escolas e universidades no mundo inteiro. As famílias monoparentais, em sua maioria chefiadas por mulheres negras, estão vivendo uma situação extremamente complexa. Sem direito a isolamento social, não puderam parar de trabalhar e estão se virando para garantir a segurança de seus filhos.
Não esqueçamos do caso do Miguel em Recife. Mirtes trabalha como empregada doméstica e teve que levar seu filho ao trabalho em meio à pandemia. Miguel morreu ao cair do nono andar por ter sido abandonado pela patroa Sari Côrte Real. Não à toa, o PSOL e Áurea Carolina estavam em luta pelo direito ao isolamento social em várias frentes e já tinham apresentado no Congresso Nacional o PL 2477/ 2020 para garantir o trabalho doméstico como atividade não essencial. Nesse país escravocrata, apesar da tragédia, não se discutiu mais o assunto.
O que se avançou sobre esse debate foi na definição do valor de R$1.200 como auxílio emergencial para as mulheres que são mães solo, outra proposta de emenda do PSOL. Assim, mais mulheres puderam ficar alguns meses em isolamento social. Com o fim dessa renda e o desemprego em ascensão, essa situação se agrava novamente e a pressão pelo retorno às aulas, também.
Unicef, OMS e Unesco, desde o final de 2019, indicam como prioridade dos governos a reabertura de escolas para a retomada econômica. De fato, crianças como Miguel, de famílias pretas e pobres, estão ainda mais vulneráveis. Aumenta a exposição à violência física, emocional, trabalho infantil e abusos. A situação segue aprofundando as desigualdades de ensino, desde a evasão escolar no ensino médio até a defasagem na alfabetização.
O fechamento das escolas escancarou a necessidade do espaço escolar e reforça a importância de projetos pedagógicos que levem em consideração indicativos de contexto social e político e o protagonismo das crianças como sujeitos de direitos.
Em meio a toda essa crise, o setor político, que sempre defendeu a lógica “produtivista” da escola pública, sua privatização e desvalorização de trabalhadoras da educação, agora se coloca como o grande defensor das crianças, da educação e das famílias vulneráveis. O partido NOVO e os negacionistas de plantão, defensores do ensino domiciliar, querem justificar a volta às aulas nas escolas particulares, favorecendo o empresariado da cidade. Já a prefeitura segue a política da abstenção. Diz que as escolas têm condições para voltar, mas se esquiva do debate central: não temos controle da pandemia para poder retomar as aulas presenciais.
Zema e Bolsonaro são responsáveis
Estamos ao lado daqueles que sempre combateram o desmonte da educação pública e sua luta histórica por valorização e investimento, com o debate amplo do papel da escola na vida pública e desenvolvimento social. Estivemos nas ruas contra os cortes da PEC do Teto de gastos, no Tsunami da Educação pela ciência, pelo direito à educação infantil universal e pública, pela Educação de Jovens Adultos. São inúmeras lutas que travamos durante décadas.
Nós queremos reabrir as escolas! Somos nós que lutamos pelo controle da pandemia desde o início. Seguimos sofrendo e perdendo vidas com a transmissão comunitária. Quem se preocupa de verdade com a educação, com estudantes, crianças e adolescentes em vulnerabilidade social e com a vida das famílias sabe que os verdadeiros culpados pelas escolas permanecerem fechadas são os próprios governos que nunca deixaram de atacar a educação.
A categoria de trabalhadores em educação é majoritariamente de mulheres, mães, como muitas de nós, também preocupadas com o desenvolvimento e aprendizado pedagógico dentro de casa. Mas não abrimos mão da segurança sanitária. Escola aberta só com controle da pandemia.
No Brasil, não temos testagens para todas as pessoas com suspeita de covid-19 e nenhuma outra maneira de monitorar e isolar os casos. Quase um ano após o início da pandemia em nosso país, ainda estamos batendo recordes de mortes todos os dias. Muitas cidades, de Manaus à Minas Gerais, estão sem oxigênio para atender pacientes. Nossa única alternativa de controle da transmissão vem sendo acelerar e garantir a vacinação.
Sem controle da pandemia, não encontramos protocolos possíveis para reabrir as escolas. Basta olharmos para os ônibus lotados, os quais os trabalhadores mais vulneráveis da educação terão que se submeter, para vermos que tratar as exigências de protocolos com superficialidade não funciona.
Em nosso último artigo falamos sobre a hierarquia da luta pelas vacinas e a falta de vontade do governo Zema e Bolsonaro em garantir doses suficientes para o país. A política da morte, do lucro acima da vida, é realmente responsável pela situação de crise generalizada e faz com que o Brasil esteja muito pior que outros países que já estão conseguindo reabrir. A luta pela vacinação para todas as pessoas pelo SUS é essencial para apontar uma saída garantindo o direito à vida.
Também lutamos pela melhoria das estruturas das escolas, contratação de profissionais para garantir um número ideal de crianças por sala de aula, assim como o envolvimento de toda a comunidade escolar no gerenciamento da crise que enfrentamos.
Iza Lourença é vereadora em BH pelo PSOL
Edição: Elis Almeida