Não sei se acho interessante, engraçado ou deprimente perceber que ano após ano ainda precisamos discutir sobre dar ou não flores no dia internacional de luta das mulheres.
O 8 de março é um dia de luta e de profunda reflexão sobre os avanços e retrocessos na luta por direitos básicos, direitos que nos são negados desde o dia em que nascemos.
Hoje, com meus 35 aninhos fico olhando minha filha de 16 e me perguntando se a vida dela é mais segura do que a minha quando tinha a idade dela.
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Fico me perguntando o que minha geração conseguiu produzir de avanços para minha filha ter uma vida mais digna e quais os grandes retrocessos nós não conseguimos evitar - e que ela e a geração dela vão precisar enfrentar.
Hoje está sendo um dia triste para mim. Por muitos motivos. Um deles é não poder estar na rua com milhares de mulheres.
Enfim, ser mulher nessa sociedade não é nada fácil, mas se eu pudesse escolher nasceria mulher novamente.
Teria gestado e parido uma filha mulher novamente.
Então, não tenho muita coisa a dizer para minhas companheiras mulheres, mas gostaria de falar algumas coisinhas para os homens:
Sua companheira, mãe, irmã ou filha é uma pessoa, ser humano que erra e acerta todos os dias assim como você.
Se sua companheira curte ganhar flores, dê flores a ela. Dê flores sem data específica. Mas sabe uma coisa legal de dar para uma mulher? Reconhecimento.
Reconhecimento público, sabe?! Reconheça as ideias incríveis dela. Reconheça as atitudes admiráveis dela, reconheça a incrível jornada de ser mulher nesse país e estar viva. Reconheça.
Divida as tarefas com as mulheres que você ama. Não ajude, divida. Mas faça isso no cotidiano. Faz aquela faxina caprichada no banheiro. Mas divida as tarefas domésticas todos os dias.
Não se ache o homem mais especial do mundo por isso. Não se gabe por isso. Não jogue na cara dela o quanto ela é sortuda por ter um homem que não faz mais do que sua obrigação.
Trate suas colegas de trabalho como iguais. Não as interrompa. Dê os créditos a elas por suas ideias e ações.
Se você tem uma filha, não castre sua sexualidade, não a trate como frágil nem como princesinha.
Quando ela tiver idade o suficiente diga para ela que em uma relação afetiva todos envolvidos devem ter prazer, que o prazer é saudável e que ela não deve abrir mão do seu prazer para satisfazer outra pessoa.
Nunca trate oi fale que uma mulher é louca ou desequilibrada por ela estar nervosa.
Diga as mulheres que fazem parte da sua vida que elas podem contar com você. Mas só diga isso se você for cumprir.
Mas, principalmente, sobretudo e antes de qualquer coisa: fale sobre feminismo com seus amigos homens, com seu pai, seus tios, seus sobrinhos e filhos.
Fale sobre a potência das mulheres para eles. Fale da importância de dividir as tarefas domésticas para eles. Fale para eles que mulheres não são objetos. Fale para eles que as mulheres também gostam de gozar.
Espero do fundo do meu coração que nos próximos anos a pauta não seja dar ou não flores. Espero que possamos estar juntas e juntos no front de batalha pela vida das mulheres, de todas nós. Espero que minha filha não precise discutir sobre se é legal ou não receber flores do dia 8 de março. Espero, torço, luto e continuarei lutando para que a gente não precise ficar repetindo o óbvio.
Manas, vocês são incríveis! Admiro e respeito vocês profundamente!
Que no próximo ano possamos nos encontrar na rua com nossas bandeiras e cartazes!!!!
Fernanda Araújo é professora de Sociologia da Secretaria de Educação de Minas Gerais em BH
Edição: Elis Almeida