Minas Gerais

ENSINO INFANTIL

Pandemia barra volta as aulas, mas vereadores de BH aprovam aulas presenciais

Na capital, vereadores aprovam projeto em primeiro turno que pode retomar com aulas presenciais em escolas particulares

Belo Horizonte | Brasil de Fato MG |

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“Proposta de retorno às aulas foi demolida pelos números da pandemia”, afirma coordenadora do Sind-UTE - Créditos da foto: Clarissa Paiva/Divulgação

Com quase 1 milhão de casos confirmados e mais de 20 mil vidas perdidas, Minas Gerais vive o pior momento da pandemia da covid-19. Todas as macrorregiões do estado estão classificadas como onda roxa a partir dessa quarta-feira (17), de acordo com plano Minas Consciente, que demandam medidas mais restritivas para conter a circulação do novo coronavírus. 

Embora os índices estejam assustadores, segue o debate sobre a reabertura das escolas, tanto municipais quanto estaduais. Em Belo Horizonte foi aprovado na sexta (12), em primeiro turno na Câmara Municipal, o Projeto de Resolução 48/2021, que, segundo a vereadora Macaé Evaristo (PT), permite, na prática, a reabertura de escolas privadas de educação infantil. Somente sete, dos 41 vereadores, votaram contra a medida. 

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O projeto, que é de autoria de seis vereadores – Flávia Borja (Avante); Braulio Lara (Novo); Fernanda Pereira Altoé (Novo); Nikolas Ferreira (PRTB); Professor Juliano Lopes (PTC) e Wesley (Pros) – visa sustar parcialmente efeitos dos decretos municipais que, desde o ínicio da pandemia, suspende atividades presenciais e os Alvarás de Localização e Funcionamento (ALFs) das creches e escolas de ensino infantil. Trata-se do decreto nº 17.361, de 22 de maio de 2020, e do Decreto nº 17.328, de 8 de abril de 2020. A medida segue, agora, para votação em segundo turno.

“Na defesa desse projeto irresponsável, ouvimos justificativas negacionistas e absurdas, tais como suicídio de empresários, imunidade de crianças à covid-19”, disse Macaé em suas redes sociais. “A covardia daqueles que votaram a favor do projeto também é assustadora. Rejeitaram um requerimento, que solicitava a votação nominal. Não queriam a publicação do painel com seus nomes marcados por essa votação desrespeitosa à vida das crianças e educadores de Belo Horizonte”, completou a vereadora.

Aulas ainda de forma remota

A Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE/MG) e a Secretaria de Estado de Saúde (SES) apresentaram, no dia 24 de fevereiro deste ano, o protocolo (clique aqui) de início do ensino híbrido nas escolas da rede estadual. Segundo o governo, o protocolo aponta para um retorno seguro, com regras de distanciamento e higienização. A volta às aulas presenciais seria facultativa, pois dependeria da concordância das famílias dos jovens e crianças. 

“Essa proposta foi demolida pelos números da pandemia”, comenta Denise Romano, coordenadora-geral do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG). “As escolas, neste momento, infelizmente, não podem ser reabertas, porque elas serão locais de contaminação. E nós já temos exemplos nacionais a respeito disso. Nossa categoria anseia o retorno, mas a escola não pode ser o lugar do medo, da morte”, aponta a sindicalista. 

Decisão liminar do Tribunal de Justiça de MG de outubro de 2020 segue impedindo retorno as aulas presenciais

De acordo com o governo, a volta às salas de aula só será permitida aos municípios que estiverem nas ondas verde e amarela do Minas Consciente, o que exige a adesão da prefeitura ao plano, o que não é obrigatório. Segundo a proposta, para a retomada das aulas presenciais, as escolas devem disponibilizar equipamentos de proteção e produtos para alunos, professores e funcionários, como sabonete líquido, álcool em gel e máscaras descartáveis. Além disso, será necessário manter o distanciamento entre os alunos e criar uma logística para evitar a aglomeração.

Justiça proíbe aulas presenciais

Embora haja os debates sobre o retorno às aulas presenciais na rede pública estadual, a decisão liminar assinada, em outubro de 2020, pelo desembargador Pedro Carlos Bitencourt Marcondes, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), ainda segue valendo. Ou seja, até que a Justiça autorize, as aulas das escolas estaduais continuam sendo remotas.

“Embora a presente ação mandamental tenha por objeto a defesa do direito coletivo da categoria [profissionais da educação] em não retornar ao trabalho presencial sem as garantias de segurança necessárias à proteção de sua saúde e vida, a matéria transcende a esse interesse, porquanto está intimamente ligada à saúde pública e à adoção de medidas de proteção sanitárias voltadas ao controle de contágio”, diz a decisão do desembargador.

No documento, o desembargador condiciona à volta às aulas à adoção de uma série de medidas, por exemplo: 

- Manter distanciamento social durante o fluxo de entrada nas escolas, em áreas livres e em todos os espaços, incluindo pátios, salas de aula, refeitórios e sanitários; 
- Realizar limpeza e desinfecção do ambiente escolar, além de objetos e brinquedos, que devem ser preferencialmente de material lavável e atóxico, como plástico, borracha, acrílico ou metal;

- Aferir a temperatura de todos na entrada das escolas;

- As salas de aula devem ser ventiladas, com ocupação do espaço com distanciamento mínimo de 1,5 metro, que deve ser a distância entre as carteiras; 

- Garantir condições para higiene das mãos nos sanitários, como sabonete líquido, papel toalha e lixeiras com tampa e abertura sem contato manual;

- Evitar uso concomitante de refeitórios ou mesas por um grande número de pessoas; 

- Os trabalhadores do grupo de risco devem ser afastados e os demais, que estiverem na escola, devem utilizar máscara, botas impermeáveis de cano longo e luvas de borracha, gorros, face protetor facial, que devem ser fornecidos pela instituição; 

- O transporte escolar deve ser organizado de forma que os veículos circulem com a metade de sua capacidade de ocupação.

Para Denise Romano, do Sind-UTE, a expectativa é que o Tribunal de Justiça mantenha a decisão de proibir o Estado de reabrir escolas. Além disso, segundo ela, o sindicato lançou, neste ano, uma ação de fiscalizar as escolas, mas que os professores têm tido dificuldade de acesso às informações. “Nós sabemos as condições da escola. E o Estado não diz: quantas escolas foram reformadas, quantas salas de aula foram ampliadas. O que nós temos são os números do Censo, que apontam para 1027 sem banheiro e mais de 900 escolas sem refeitório”, denuncia. 

Em coletiva de imprensa, a secretária de Educação de Minas Gerais, Julia Sant’Anna, afirmou que as escolas da rede estadual estão preparadas para o retorno das aulas presenciais. “Importante dar essa segurança, porque houve rigor de um cheklist com o que foi efetivamente realizado. O que nos dá a certeza de que tivemos esse processo de comunicar bem a comunidade escolar”, afirmou. Segundo a secretária, foram investidos R$ 125 milhões para que as escolas pudessem se adequar às exigências e, dessa forma, atender às solicitações feitas pela Justiça. 

A prioridade é a vida

Organizada pelo Fórum das Entidades Educacionais, a campanha “Nossa Prioridade é a Vida: Aulas Presenciais só com Ampla Vacinação”, que reúne 23 entidades e movimentos da educação de todo o estado, tem como objetivo alertar sobre os grandes riscos do retorno das atividades escolares presenciais. 

“Mais do que ninguém, os trabalhadores em educação estão preocupados com o desenvolvimento cognitivo e escolar dos estudantes e com riscos psicossociais que envolvem  a não retomada das atividades escolares. Mas esses danos são causados pela pandemia e não seria a simples reabertura das escolas que os resolveriam, principalmente porque a reabertura  não se daria em um contexto de retorno à normalidade. Nesses momentos, as escolhas são limitadas a minimizar as perdas”, diz o texto do movimento. 

Edição: Elis Almeida