A última semana começou com mais uma expressiva carreata bolsonarista e terminou deixando mais nítido o cenário político que se desenha em BH. E, nesse texto, lanço um olhar sobre os acontecimentos recentes a partir do contexto da Câmara Municipal, que teve um mês de enfrentamentos de fôlego, e onde as forças políticas que investem numa “oposição à direita” ao prefeito Alexandre Kalil (PSD) tiveram um avanço evidente.
Primeiro, esses parlamentares reacionários derrotaram a Lei da Retomada Cultural, um projeto de autoria da Gabinetona que teve o apoio de vereadores da base do Prefeito. Depois, com cenas shakespearianas de chantagem e traição, articularam para barrar um projeto importante da Prefeitura que garantiria investimentos imprescindíveis para combater enchentes na Vilarinho e trazer melhorias para as comunidades da Izidora. Uma dura derrota para o governo e para toda a cidade.
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Para desgastar Kalil a qualquer preço, esses vereadores e vereadoras da oposição à direita também querem reabrir creches e pré-escolas da pior maneira e no pior momento da pandemia, e se movimentam para tentar impedir a criação do Comitê de Igualdade de Gênero, compromisso firmado entre a Prefeitura e a ONU Mulheres.
O mesmo campo político também articulou a convocação do Secretário de Saúde nesta terça (23/03), para prestar esclarecimentos sobre o enfrentamento à pandemia, no mesmo momento em que a “Frente Cristã” quer reverter a suspensão dos cultos em suas igrejas e crescem discursos contra as medidas sanitárias adotadas pela prefeitura.
De olho em 2022, as forças políticas que orbitam Zema e Bolsonaro caminham juntas em BH
Em uma tentativa de definir essa reorganização de forças, podemos descrever essa “oposição à direita” como um campo informal de parlamentares orientado pela bancada do partido Novo (Zema) em parceria com o Bloco Somos BH, ligado ao Deputado Federal Marcelo Aro (PP). Os membros desse grupo agem de forma articulada, ora dialogando com o bolsonarismo explícito, ora com o discurso liberal e ora com a direita tradicional, misturando estado mínimo, negacionismo e conservadorismo para cercar o governo Kalil.
De olho em 2022, as forças políticas que orbitam Zema e Bolsonaro caminham juntas em BH, formando maiorias ocasionais para barrar boas iniciativas da Prefeitura. E, diante deste cenário, Kalil se firma como maior contraponto democrático no estado de Minas Gerais, e também como um ator fundamental para a construção de uma saída para o Brasil.
Acredito que nós, da esquerda, temos a tarefa complexa de qualificar cada vez mais nossas críticas ao Prefeito, sem abrir nenhum espaço a quem lhe faz oposição mesquinha. Sem dúvidas, isso passa por reconhecer seus acertos e colaborar com seu governo sempre que possível, em nome da democracia e do povo da cidade.
Dentre os acertos recentes, destaco a iniciativa do Prefeito de vetar integralmente o projeto de lei 122/2017, que tenta instituir censura às artes e à liberdade de aprender e ensinar. É verdade que o governo já se equivocou em alguns episódios: lembro quando cedeu à pressão política fundamentalista para censurar a performance “Nossa Senhora das Travestis” na Virada Cultural; e quando gerou polêmica com a tentativa de suspender uma exposição de arte contemporânea, fechando repentinamente o Museu de Arte da Pampulha para reformas.
No entanto, é preciso reconhecer outros momentos em que Kalil acertou na defesa da liberdade de expressão. Além de participar da Parada LGBT e negar os princípios do Escola Sem Partido, o Prefeito visitou a exposição de Pedro Moraleida no Palácio das Artes, quando tentaram censurá-la. Também defendeu o mural de Criola, em entrevista ao Roda Viva, e seu governo se posicionou contra a criminalização do Circuito Urbano de Arte (Cura) e de jovens artistas de rua. Em tempos de censura, ódio e desprezo pela democracia, esses são gestos importantíssimos.
É tempo de diálogos cada vez mais amplos e mais abertos
Destaco também a recente regulamentação de uma Lei que tenho orgulho de ser coautora: a Lei Morada Segura, que garante que as mulheres em situação de violência sejam incluídas nas políticas de habitação. A regulamentação ocorreu após um longo processo de diálogo e construção da Gabinetona BH junto à Secretaria Municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania da Prefeitura de Belo Horizonte.
Para mim, confluência e resolutividade são princípios estratégicos para superarmos a ameaça autoritária e a política da morte. É tempo de diálogos cada vez mais amplos e mais abertos, e de atuar para fazer crescer cada vez mais o bonde da vida, da política, da democracia e da civilização.
Cida Falabella é vereadora de Belo Horizonte pelo PSOL/Gabinetona BH.
Edição: Elis Almeida