Minas Gerais

PANDEMIA

Pacientes de covid nas UPAs de Belo Horizonte estão agonizando, relatam trabalhadores

Sindicato e Conselho Municipal de Saúde cobram “política de guerra” dos governos federal, estadual e municipal

Belo Horizonte | Brasil de Fato MG |

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"Em 72 horas, 21 pacientes faleceram nas UPAs municipais, sendo dois por espera prolongada de leito" - Créditos da foto: Divulgação PBH

Há 10 dias, Belo Horizonte tem fila de leitos para Unidades de Terapia Intensiva (UTI), em razão do agravamento da crise da covid-19. De acordo com o Sindicato dos Empregados e Servidores Públicos de Belo Horizonte (Sindibel), em 72 horas, 21 pacientes faleceram nas UPAs municipais, sendo dois por espera prolongada de leito. O sindicato também afirma que, em toda a rede SUS-BH, 200 pessoas estão na fila por um leito. A rede privada também não tem leitos suficientes.

“Hoje, na minha sala de emergência, nós temos seis pacientes intubados sem ventilação mecânica, duas pacientes em macroterapia [ventilação com máscara]. Na enfermaria, há duas pacientes que não conseguem ir para a sala de emergência para serem intubadas e monitoradas de perto. Elas estão agonizando. Eram três, mas uma foi levada para a sala de emergência e ‘parou’ no leito, não conseguiram reanimar a mulher e foi constatado o óbito”, relata, aflita, uma trabalhadora do SUS-BH.

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Outro trabalhador do SUS, de BH, conta que, no local onde ele trabalha, há número insuficiente de profissionais, em face da explosão de casos e até mesmo pacientes que aguardam por transferência há mais de uma semana na UPA. “Uma enfermeira e dois técnicos de enfermagem na emergência. E os pacientes lá na enfermaria precisando ir para a sala. Tem paciente há nove dias dentro da UPA. Um moço só foi transferido pro Júlia [hospital Júlia Kubitschek] depois de oito dias. Misericórdia!”, relata.

Os relatos foram enviados ao Brasil de Fato MG pelo Sindibel. Os trabalhadores, por razões contratuais com a prefeitura não podem ser identificados.

Medidas radicais

Para enfrentar a crise, o Sindibel cobra da prefeitura medidas radicais, como o fechamento compulsório de todas as atividades não essenciais (lockdown) e outras ações. “Estamos em situação de guerra. Sem a garantia de vacinação em massa neste momento, a única medida para reduzir a ocupação dos leitos hospitalares e das UPAs é o afastamento social e, se necessário, o lockdown. Além disso, também é preciso, por meio dos instrumentos de Estado, garantir o suporte para os pequenos negócios que não têm as reservas econômicas necessárias para ficarem fechados”, afirma em nota.

O Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte também tem cobrado medidas mais duras. Em plenária do dia 17 de março, com a participação de 100 conselheiros, a entidade aprovou uma lista de 14 recomendações ao poder público, entre o aumento da distribuição de cestas básicas, um programa de renda básica municipal para desempregados, trabalhadores informais e pequenas empresas, maior fiscalização, ampliação da testagem e o lockdown. [lista completa aqui].

O médico Bruno Pedralva, que é secretário-geral do Conselho e também diretor do Sindibel, ressaltou que a prefeitura tem tomado medidas importantes, mas que ainda são insuficientes. “Nós reconhecemos que a catástrofe não é em Belo Horizonte apenas. Mas, nesse sentido, nós queremos que o prefeito se coloque e declare guerra à pandemia e divulgue o que está acontecendo, inclusive para que as pessoas se previnam mais. É de interesse público as pessoas saberem disso”, defende.

Nota da Prefeitura de Belo Horizonte

Em nota, a prefeitura informou que Belo Horizonte, assim como todo o país, se encontra em uma situação grave em relação à pandemia da covid-19, devido ao aumento da procura nas UPAs por pacientes com sintomas da doença. Ainda, segundo o texto, a prefeitura abriu, neste mês, 243 leitos de UTI covid, saltando de 283 para 526.

Em relação aos pacientes hospitalizados na rede SUS que necessitem UTI, a prefeitura informa que eles já foram cadastrados na central de leitos, mas que já foram atendidos e estão recebendo atenção médica. Além disso, sobre insumos, oxigênio e medicamentos, a PBH afirma que os “estoques estão abastecidos nas UPAs e a informação de que pacientes morrerem na UPA Norte devido à falta de respirador, não procede. Só nesta unidade, são nove respiradores. Nas nove UPAs são 75 respiradores”, diz o texto.

Edição: Larissa Costa