Talvez, Juraci seja a encarnação de Jó. Espero que a vida lhe volte a sorrir
Juraci é uma daquelas pessoas populares e boas-praças. Daqueles chamados de "sangue bão" nas quebradas. Bom de bola e bom de escola! Um cara bem-querido! Não usava óculos, mas fazia um relativo sucesso no Leblon, Bixiga, Capão Redondo, Parque Riachuelo, Santa Tereza com a mulherada! Em um período de seis meses, perdeu 4 pessoas queridas.
Sua vida começou a mudar muito rapidamente. Como um tsunami, sua vida virou do avesso. Primeiro, perdeu a Espanhola, seu maior amor da vida. Foi de uma maneira inesperada. Pela manhã, passou mal e foi ao posto de saúde. Como tinha uma saúde de ferro, achou que seria uma ida rápida e voltaria para casa. Ledo engano! Nunca mais voltou. O mundo acabou para Juraci naquele dia. Ele não acreditava. Como assim? Por quê, meu Deus? A Espanhola? Nunca fez mal a ninguém! Ele não cabia dentro de si. A dor caiu como a noite cai do céu. Foi o pior dia da sua vida.
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Passados alguns dias, ele, tentando se recuperar, recebe um telefonema urgente. Era sua vizinha, irmã do seu melhor amigo. Juraci, vem para cá correndo. Ele nem perguntou o que tinha acontecido. Foi como o Usain Bolt. Vapt-Vupt!!! Chegou junto com o SAMU, que constatou que Gilberto tinha acabado de falecer.
Mais uma vez, a vida tinha sido dura com Juraci. Pelo amor de Deus! Mais uma morte que dilacerava seu coração. Ele ficou paralisado por quase duas horas numa cadeira da cozinha. Ele não acreditava no que estava acontecendo. Seu amor maior e seu melhor amigo tinham ido embora de repente e sem avisá-lo. Que sina danada!!! Ficou quase um mês sem atender a celular e telefone. Ficou isolado à la João Gilberto. Não queria falar com ninguém.
Aos poucos, foi retomando a vida. Ligou seu celular depois de um mês. Já no primeiro telefonema, a mãe do Marquinhos. Ele já tremeu todo. Ela estava tentando falar já tinha dois dias. Juraci, já todo ressabiado, perguntou: Dona Hélia, tudo bem? Não, Juraci! Estou no velório do Marquinhos. O quê? A senhora está de brincadeira? Marquinhos era seu amigo do curso de matemática. Seu confidente e seu guru. Ele vivia mais com o Marquinhos que com outra pessoa. Juraci não acreditava naquela notícia. De novo? O que eu fiz de errado?
Ele decidiu romper com tudo. Virar um peregrino. Não dava, estava cheio de conta para pagar. Jogou o celular fora. Disse que nunca mais atenderia a um telefone. Jurou que não entraria mais em um cemitério durante um bom tempo. Passados quase dois meses, chegou na sua casa seu primo Adão. Era quase meia-noite. Ele, já todo assustado e ressabiado com tudo. Abriu a porta e falou: Tia Ordália morreu, né? Seu primo, assustado, retrucou. Como sabes? Já estou acostumado. Infelizmente, virou rotina no pais do carnaval.
Ele resolveu tirar umas férias. Sem telefone, sem e-mail, Instagram, correio elegante, sem nada. Não podia ver uma ambulância, sirene, hospital e cemitério. Hospedou-se em uma pensão em frente à praia, foram quase três meses ali. Sem falar com quase ninguém. Mas teve que voltar a trabalhar, estudar, cumprir com sua rotina diária.
Um belo dia de sol, chega a sua casa uma tia. Uma tia de quem ele só ouvira falar duas vezes no máximo. Pediu para ficar uma semana no máximo. Ficou dois anos e meio. Ele, que estava se recuperando de tantas perdas. Nesses dois anos e meio, sua tia desconhecida o fez perder cabelo, dinheiro, carro, estima.
Talvez, Juraci seja a encarnação de Jó. Espero que a vida lhe volte a sorrir.
Rubinho Giaquinto é covereador da ColetivA em Belo Horizonte.
Edição: Elis Almeida