Minas Gerais

REORGANIZAÇÃO

Estudo da UFMG mostra que áreas vulneráveis devem ter prioridade na vacinação

Mortalidade por covid-19 em idosos é quase três vezes maior em favelas e bairros mais pobres

Belo Horizonte | Brasil de Fato MG |
Índice de Vulnerabilidade em Saúde leva em conta: saneamento, coleta de lixo, abastecimento de água, alfabetização e cor da pele - Isabel Baldoni / PBH

O estudo “Maior mortalidade durante a pandemia de COVID-19 em áreas socialmente vulneráveis em Belo Horizonte: implicações para priorização da vacinação”, conduzido pela UFMG, com a participação de pesquisadores e gestores da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (SMS-BH) e da Vital Strategies, mostrou que a população residente em áreas de maior vulnerabilidade social apresentou maior mortalidade durante a pandemia da covid-19 no ano passado.

O estudo

O estudo mostrou que a mortalidade por causas naturais e por covid-19, em Belo Horizonte, entre março e outubro de 2020, foi maior nas regiões de maior vulnerabilidade. O critério do que é vulnerabilidade foi baseado no Índice de Vulnerabilidade em Saúde (IVS), que leva em conta cinco variáveis: saneamento, coleta de lixo, abastecimento de água, alfabetização e cor da pele e classifica as áreas de baixo, médio e elevado risco social.

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“A covid-19 não atinge a população da mesma forma e está escancarando ainda mais a desigualdade brasileira. Pessoas idosas e com maior vulnerabilidade social são aquelas mais atingidas pela pandemia. Por isso, dentro dos grupos prioritários de vacinação, devemos privilegiar a distribuição da vacina em áreas de média e alta vulnerabilidade social. Essa é uma estratégia para reduzir a mortalidade e a morbidade da população mais afetada”, afirma a professora da Escola de Enfermagem da UFMG, Deborah Carvalho Malta.

Idade

A mortalidade por covid-19 foi muito maior nos idosos. Enquanto a taxa de mortalidade é igual a 4/100.000 habitantes nos residentes de Belo Horizonte com idade entre 20 e 39 anos, esta taxa é de 164/100.000 habitantes entre os idosos entre 60 e 74 anos, chegando a 611/100.000 habitantes para idosos com 75 ou mais anos.


Gráfico relaciona mortalidade por covid-19 e situação de vulnerabilidade social / UFMG

Localização da moradia

O local de moradia da população de Belo Horizonte também se mostrou um fator preponderante, com maior mortalidade em áreas mais vulneráveis. A taxa de mortalidade por 100.000 em idosos (60 ou mais anos) foi igual a 292,3, aumentando de 179,2 para 353,6 e 472,6, nas regiões da cidade de baixa, média e elevada/muito elevada vulnerabilidade, respectivamente. Estas diferenças se mantêm nos idosos de 60-74 e 75 ou mais anos.

“As taxas de mortalidade padronizadas para a idade evidenciaram o aumento do risco de morte conforme aumenta a vulnerabilidade social. Os idosos que residem nessas áreas correm maior risco de exposição ao vírus, porque precisam usar o transporte público, moram com parentes que trabalham em serviços essenciais, têm menor acesso aos serviços de saúde e maior número de comorbidades, aumentando a letalidade por covid-19”, afirma Deborah Malta.

Taxa de mortalidade por 100.000 em idosos variou de 179,2,3 a 472,6, a depender da região da cidade

“O cenário atual no Brasil de restrição de doses impõe a priorização da vacinação, mesmo dentre os grupos prioritários, como os idosos. Os dados desse estudo reforçam a importância de considerar as desigualdades sociais como um fator determinante no acesso prioritário à imunização. Fazendo isso, vamos aliviar a pressão ao sistema de saúde, não apenas em Belo Horizonte, mas em todo o país, especialmente onde o sistema de saúde está prestes a colapsar”, finaliza Fátima Marinho, médica epidemiologista.

Contatos do dia-a-dia

Em outra frente, os departamentos de Sociologia da Fafich e de Estatística do ICEx, ambos da UFMG, estão trabalhando na elaboração de um novo modelo epidemiológico para a covid-19 baseado em interações sociais. Juntos com a Universidade Central do Equador, os pesquisadores irão analisar as redes de contato das pessoas, como trabalho, vizinhanças e transporte público, para projetar a evolução da pandemia.

“Os modelos epidemiológicos tradicionais não levam em conta um fator importante, que é o número de contatos que uma pessoa mantém em um dia comum, nos diversos círculos sociais da sua vida, como a casa, o trabalho, a vizinhança, o transporte púbico e a escola”, afirma o professor Silvio Salej Higgins, do Departamento de Sociologia, coordenador da pesquisa.

Como vai funcionar

O projeto entende que as medidas de isolamento são importantes, mas o são também a quantidade de contatos e relações que o indivíduo tem, saindo ou não de casa. Os indicadores alimentarão três tipos de modelos epidemiológicos complementares, de caráter matemático, que possibilitarão estimar de forma realista o curso de pandemias relacionadas às síndromes respiratórias agudas, como é o caso da covid-19.

A pesquisa será realizada no Aglomerado da Serra, na Região Sul de Belo Horizonte. Serão observadas mil pessoas de quatro faixas etárias: 0 a 14 anos, 15 a 34 anos, 35 a 50 anos e maiores de 60 anos.

Com base nas informações coletadas, o grupo espera ser capaz de dimensionar o tipo e a quantidade de contatos desses indivíduos e, a partir daí, criar projeções de contágio e evolução da pandemia nas outras regiões de Belo Horizonte e em outras cidades no Brasil.

(Com informações da UFMG)

Edição: Elis Almeida