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Jairinho e a anomia social

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Outra prática para tampar sua perversão é declarar-se religioso e fiel à bíblia, e com isso, obter votos de evangélicos - Créditos da foto: Reprodução
Mentir, difamar, injuriar e ocultar os crimes são meios de autopromoção

Dr. Jairinho, como é chamado o assassino do menino Henry Borel, de farto conhecimento público, impropriamente, é chamado dr. Jairinho. É apenas bacharel em medicina, mas nunca exerceu a profissão. Para obter o título de doutor teria que escolher uma especialidade e defender nela tese de doutoramento. Ele mesmo fez questão de se intitular doutor para ter status e nome confiável na política. Faz parte da farsa, a herança eleitoral do pai, coronel PM Jairo Souza Santos, que ostentou estereótipo de que todo militar é honesto e disciplinado. 

Jairinho, para tamponar seu mau caráter, pediu para ser indicado e foi atendido para ser membro do Conselho de Ética da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, três dias depois de ter assassinado seu enteado. 

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Outra prática para tampar sua perversão é declarar-se religioso e fiel à bíblia, e com isso, obter votos de evangélicos. Jairinho apoiou e foi apoiado por Marcelo Crivela de quem recebeu calorosos elogios. Ele aprendeu com esse pastor a contestar os conhecimentos científicos e os valores teológicos consagrados historicamente. Novas seitas que evocam a fé para dominar os fiéis. Uma fé que não remove montanha, mas que a coloca onde não existe e, ironicamente, não tira do dedo o anel de doutor. 

O comportamento de Jairinho enquadra-se na ideologia da ostentação, que pode estar associada à “teologia” da prosperidade. É o ideal de subir na vida e diferenciar-se dos demais, a qualquer preço. Exclui o ideal de bem-estar coletivo e imita aqueles que conseguem enriquecer-se de forma ilegítima ou criminosa. Perde o escrúpulo de ter inimigos, como proclama seu correligionário Silas Malafai quando diz: “São os inimigos que nos promovem. Portanto, não tenha escrúpulo de fazer e manter seus inimigos com raiva”. 

Mentir, difamar, injuriar e ocultar os crimes são meios de autopromoção. A covardia de Jairinho ao torturar e matar uma criança é a mesma de não se importar com a indignação da maioria de toda a sociedade. 

Segundo Emile Durkheim (1856/1917), não se deve misturar os fatos psicológicos com o sociológico. Neste caso, o crime de Jairinho deve ser visto como um fenômeno social, o mesmo que está ocorrendo em toda a sociedade; uma força coletiva que age por trás dos indivíduos, influenciando suas ações. 

A radicalização do neoliberalismo e do individualismo vem sendo praticada e, com isso, a pressão para eliminar a atuação do estado e dos serviços públicos; desregulamentação e quebra de condutas, até então vigentes. Dai a tendência para negar tudo que é legítimo e historicamente estabelecido, como a defesa do meio ambiente; prioridade para as questões sociais. 

Negam até os conhecimentos científicos e reagem contra os meios de prevenir e combater a contaminação por coronavírus; são contra a socialização das crianças pela educação, como na campanha “escola sem partido”. Já conseguiram desregulamentar o trabalho assalariado e querem violar a constituição. 

Durkheim chamou a desordem social de anomia que é a reação contra as normas. A anomia concorre para o aumento da criminalidade, suicídios e desrespeito pelo outro. 


Antônio de Paiva Moura é docente aposentado e mestre em história pela PUC-RS

Edição: Elis Almeida