Todos sofremos os efeitos dos mecanismos cerebrais chamados vieses cognitivos
A pandemia da covid-19 completou um ano e três meses. Talvez esse seja um dos episódios na história que mais levou as pessoas a ouvirem e conversarem sobre ciência. E é estranho perceber que, mesmo assim, há tanta desinformação e negacionismo científico.
Me choca ver o número de pessoas que ainda creem no tal “tratamento precoce” contra a doença (composto por remédios como Cloroquina, Ivermectina e Azitromicina).
Em momento algum houve qualquer evidência científica relevante que indicasse uma relação mínima entre esses medicamentos e a prevenção ou tratamento da covid.
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É possível tentar entender tal fenômeno sob diferentes aspectos. Meu enfoque aqui será mais a partir da psicologia: por que acreditamos em coisas que não fazem sentido racional?
Estudos de áreas como a neuropsicologia nos dão pistas sobre esse enigma. Algo já demonstrado experimentalmente é a existência dos chamados vieses cognitivos. Todos somos vítimas deles, uma vez que os mesmos decorrem da forma como nossos cérebros naturalmente funcionam.
Por exemplo: o viés de confirmação tende a nos fazer prestar mais atenção em informações que reforçam nossas crenças e menos nas que as combatem. Já o viés de retrospectiva faz com que nossa memória reorganize acontecimentos passados de acordo com nosso conhecimento atual sobre eles.
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Todos sofremos os efeitos desses mecanismos cerebrais. A evolução programou nosso cérebro para melhor garantir a nossa sobrevivência e reprodução, e não para que compreendamos o mundo da forma mais correta. Ou seja, a ciência e a busca pela verdade sobre a realidade que ela propõe não é algo que nosso cérebro intrinsecamente almeja. Apesar de ser um órgão formidável para isso.
Assim, para diminuir os efeitos desses vieses cognitivos que nos fazem ver a realidade de forma distorcida, é preciso esforço e educação. Precisamos ser treinados desde cedo a pensar cientificamente. Só assim teremos uma sociedade que não perde tanto tempo (e vidas) com falsas soluções.
Um abraço e até a próxima!
Renan Santos é professor de biologia da rede estadual de Minas Gerais
Edição: Rafaella Dotta