A Itatiaia é tão conhecida na paisagem sonora dos mineiros que talvez os ouvintes nem percebam mais os vários absurdos da rádio, como aquela mistura esquisita entre jornalismo e publicidade, com a mesma voz. A intensa cobertura de futebol – e de violência – pode ser uma explicação para o carinho recebido pela emissora e seu estilo de reportagem, mas sua relação com a política merece mais atenção.
Como bem denominou o jornalista Daniel Camargos, essa “força política” que é a Itatiaia já elegeu 30 parlamentares em seus 69 anos de história, inclusive o senador em atuação Carlos Viana (PHS) e o vereador de Belo Horizonte Álvaro Damião (DEM).
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Em maio, foi noticiado que o empresário Rubens Menin comprou a “rádio que dá notícia de tudo”. Menin, que já é dono da MRV, de um pedaço do banco Inter e da CNN, também é um apoiador de campanhas políticas, especialmente aquelas do partido Novo. Marcelo Gomes, em artigo no Brasil de Fato MG, questiona como ficará a cobertura da emissora das eleições no estado (e de outros veículos com donos igualmente envolvidos na política).
Para completar a ficha do mais novo dono da Itatiaia, ele já teve sua empresa de construção autuada cinco vezes por uso de mão de obra em condição análoga ao trabalho escravo. Como se não bastasse a gravidade disso, ele ainda criou uma associação que passou a combater a divulgação pelo Ministério do Trabalho e Emprego da chamada “lista suja”. Conseguiu em 2004. Depois a lista voltou, mas a associação de Menin seguiu na batalha para derrubá-la. Essa informação e outras muito relevantes estão no excelente perfil escrito pela jornalista Alice Maciel, na Agência Pública.
Os efeitos da venda da rádio foram discutidos em uma live promovida pelo Fórum Nacional pela Democratização e pelo Sindicato dos Jornalistas, que pode ser acessada nas páginas das entidades.
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Quem acompanhou tudo isso talvez não tenha se surpreendido com a notícia, divulgada pela própria Itatiaia, de que o presidente da rádio, Diogo Gonçalves, foi recebido por Bolsonaro nesta semana, em Brasília. O próprio Diogo publicou em rede social sua alegria com o encontro, reforçando um otimista – e preocupante – “vamos juntos. Que deus abençoe nosso presidente e nossa nação”.
Observe a cobertura internacional
Se você está com a impressão que a mídia comercial está um pouco mais progressista, mais antenada com os absurdos que se passam na política brasileira e quem sabe até com uma postura mais crítica e coerente, a dica de ouro é: observe a cobertura internacional. Ali sobram os chavões e preconceitos a líderes como “esquerdistas”, “populistas”, “caudilhos”, ou ditadores mesmo. Observe quais são as palavras escolhidas para caracterizar os de direita. Aliás, se usam a o termo “direita”.
Será que aprenderam alguma lição? Dia 19 de junho tem mais ato de rua pelo Fora Bolsonaro. Será que desta vez merecerão cobertura midiática?
Joana Tavares é diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais
Edição: Rafaella Dotta