Minas Gerais

LIVROS

Resenha: a intelectualidade brasileira nos anos 40 e 50 e a construção da brasilidade

Um livro para quem quer conhecer a história intelectual brasileira

Belo Horizonte | Brasil de Fato MG |
"Um daqueles que merece adjetivos como prazeroso, instigante, ousado" - Créditos da imagem: divulgação

O livro Uma brasiliana para a América Hispânica: a editora Fundo de Cultura Econômica e a intelectualidade brasileira (décadas de 1940/1950) escrito por Luciano Mendes de Faria Filho é um “livraço”. Um daqueles que merece adjetivos como prazeroso, instigante, ousado. 

Trata-se também de um livro que seguramente será “categorizado” com adjetivos próprios ao debate acadêmico tais como denso, rigoroso e, doravante, obrigatório para quem queira abordar, conhecer e, principalmente, escrever a respeito da história intelectual.

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O que fez Luciano? Ou melhor, como fez? Demonstrou a potência analítica que desponta quando é possível desvelar cenários enquadrados por “intelectuais mediadores”; aliás, um livro prefaciado por Ângela Castro Gomes, referência no assunto, é um livro fadado a tornar-se referência também.

E, assim, nos bastidores da preciosa Fondo de Cultura Económica despontam editores, projetos transnacionais, coleções que, analisadas com inquieta lupa, tornam esse capítulo de história intelectual, também um exemplo de história das edições.

O autor tem reconhecida experiência na identificação e análise de repertórios intelectuais prescritivos, como aqueles que permeiam a aproximação entre intelectuais e a educação, e em cujo movimento esses “pensadores” sempre pronunciam e manejam palavras-chave, como civilizar e desenvolver, para que possam produzir projetos nacionais sob a própria curadoria política e ideológica.

Neste livro, a correspondência, a troca de cartas, o fazer-se representar, proporcionam vislumbrar articulações, urdiduras e modos de mediar que permitem a nós leitores/as entender porque coleções como Tierra Firme e Biblioteca Americana são antessalas para o encontro, alhures, com intelectuais brasileiros em cujo patrimônio político contabilizamos os ativos da construção da brasilidade a que se dedicaram.

Mesmo Lúcia Miguel Pereira, desprovida de arquivos dedicados ao seu legado, é personagem dessa trama com sua “visão das coisas grandes e pequenas que nos formaram e estão a nos formar”, como cantou Caetano Veloso.

Como afirmei no início, é um “livraço”.

Marcos Cezar de Freitas é professor da Universidade Federal de São Paulo.

Edição: Elis Almeida