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Revoltas de Pernambuco: as primeiras pela independência do Brasil

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 As novas ideias circulavam em Recife por meio de seu porto, que escoava açúcar e algodão.
As novas ideias circulavam em Recife por meio de seu porto, que escoava açúcar e algodão. - Reprodução
No início do século 19, Pernambuco era uma das partes mais ricas do país

Pernambuco foi palco dos primeiros movimentos revolucionários do país em função do conhecimento e da consciência presentes na região, devido ao processo do povoamento dessa capitania/província.  Essa é, ainda que não apenas, uma influência da época da ocupação dos holandeses.

Na comitiva de Nassau vieram sábios, artistas e técnicos que incutiram o ritmo de urbanização naquela que era uma aldeia de pescadores e foi transformada na cidade Maurícia (Mauriciópolis).

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Foi por meio de notícias e publicações do período do Brasil-holandês que se despertou uma curiosidade sobre as descrições feitas deste “novo mundo” pelos naturalistas, atraindo o interesse e a atenção de outros estudiosos que passaram a se interessar por este lugar. Parece ter nascido nesta época o gosto pela autonomia.

Já no início do século 19, outros viajantes passaram por Pernambuco, como Spix e Martius (1817); James Hunderson (1816); L.F.de Tollenare (1817) e Maria Graham (1821).

Além disso, muitos brasileiros começaram a estudar na Europa e trouxeram consigo ideais libertários. Era comum os filhos da elite açucareira pernambucana estudarem fora.

Por meio do registro histórico destes viajantes em seus diários muito pode-se resgatar sobre a época fundante das independências no país. Na região Norte (como era conhecido o que veio a ser, depois, o Nordeste), aumentou o ressentimento em relação aos portugueses com a chegada da Corte em 1808.

Dom João VI e seu séquito transformaram a cidade do Rio de Janeiro no centro do império português, e passaram a cobrar impostos das outras regiões do Brasil, aumentando a indignação. Entre tantas taxas, havia uma, por exemplo, para financiar a iluminação das ruas do Rio de Janeiro.

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O palco para as revoltas estava montado. No início do século 19, a produção do açúcar e do algodão prosperavam em Pernambuco, fazendo-a uma das partes mais ricas do país. Entre 1817 e 1824, a província de Pernambuco se manteve em estado de rebeldia constante, desafiando as monarquias de Dom João VI e depois do imperador Pedro I.

Conhecidas como Revolução Pernambucana (1817) e Confederação do Equador (1824), esses movimentos revolucionários de caráter republicano eclodiram justamente na província mais próspera, embora tenham se alastrado para outras províncias do Nordeste do Brasil.

Destaca-se o movimento revolucionário de 1817, uma das raízes da Confederação do Equador. As novas ideias circulavam em Recife por meio de seu porto, que escoava açúcar e algodão.

Os princípios de liberdade e igualdade que haviam inspirado a independência americana, em 1776, e a Revolução Francesa, em 1789, respingavam forte nesta parte do território brasileiro (a mais oriental do continente americano).

Diante do clima de conspiração, em 6 de março de 1817 o governante da província, Caetano Pinto de Miranda Montenegro, mandou prender vários suspeitos de tramarem a implantação de uma república em Pernambuco.

Porém, ao receber voz de prisão, o capitão da artilharia José de Barros Lima matou seu comandante e saiu às ruas. Libertou os conspiradores e ajudou a prender o governador e, em 7 de março de 1817, foi implantado o governo provisório.

Os rebeldes assumiram o poder e chegaram a divulgar uma Lei Orgânica. Foram 75 dias de liberdade, em que a província virou uma república independente de Portugal. Esta foi provavelmente a primeira tentativa de independência do Brasil.

Sofremos duas grandes retaliações geográficas com os atos revolucionários: Dom João VI desligou Pernambuco da Comarca das Alagoas como punição pela Revolução Pernambucana.

Mais tarde, o imperador Pedro I desmembrou a Comarca do Rio São Francisco do território pernambucano, devido à Confederação do Equador.
Maria Graham, uma inglesa, professora de literatura da turma de guardas-marinhas, que por aqui aportou em 1821, anotou: “Deixamos Pernambuco na firme persuasão de que pelo menos esta parte do Brasil, jamais se submeterá pacificamente a Portugal”.

Fica a dica do seu livro “Diário de uma viagem ao Brasil”.

 

Maria do Carmo F. Soares é secretária regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência em Pernambuco
 

Edição: Rafaella Dotta