Uma cena me chama a atenção: pessoas desesperadas de fome comem osso cru
Vejo uma fila enorme à minha frente. Fico sem entender uma fila tão grande. Uma cena me chama a atenção: a distribuição de pedaços de ossos. Fico atônito. Desolado. Penso numa revolução popular. Como aceitamos uma situação dessas?
O açougue, que distribui os ossos há dez anos, diz que isso acontecia apenas uma vez por semana, mas agora são três. A crise provocada pela pandemia só fez a fila crescer. Culpa desse energúmeno que está na presidência. Ladrão, assassino e corrupto.
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Vinte milhões de pessoas passam fome no Brasil. Como pode? O Brasil é o terceiro maior produtor de alimentos do mundo. Uma cena me chama mais a atenção ainda: pessoas desesperadas de fome comem osso cru. Fico revoltado comigo mesmo. Como aceito isso? Lembro do Chico Science: Organizar para desorganizar. Militantes com razão queimam uma estátua que representa um opressor que matava gente escravizada. Mas ainda é pouco. É preciso um grande levante popular.
Passa um carro com um som muito alto. Soa uma música do rock brasileiro:
“Daqui do morro dá pra ver tão legal
O que acontece aí no seu litoral
Nós gostamos de tudo, nós queremos é mais
Do alto da cidade até a beira do cais
Mais do que um bom bronzeado
Nós queremos estar do seu lado
Nós tamo entrando sem óleo nem creme
Precisando a gente se espreme
Trazendo a farofa e a galinha
Levando também a vitrolinha
Separa um lugar nessa areia
Nós vamos chacoalhar a sua aldeia
Mistura sua laia
Ou foge da raia
Sai da tocaia
Pula na baia
Agora nós vamos invadir sua praia”
O último verso da música é muito sugestivo: temos que invadir a praia dessa gente que explora o Brasil há cinco séculos. Surfar na onda deles. Destruir todos os seus castelos de areia. Tomar o vinho deles. Essa gente não tem qualquer compaixão pela maioria do povo. Eles são dominados pela má vontade de ver o povo feliz.
Rubinho Giaquinto é covereador da Coletiva em Belo Horizonte
Edição: Larissa Costa