Após mais de um mês do retorno às aulas presenciais em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, professores da rede municipal denunciam condições do ensino que colocam em risco saúde dos trabalhadores em meio à pandemia de covid-19.
O retorno às atividades presenciais nas escolas municipais da cidade tem acontecido de forma gradual. Desde o dia 14 de junho, os alunos podem optar pelo modelo de ensino híbrido, cuja presença é facultativa. Para os professores o retorno foi considerado obrigatório.
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Segundo a prefeitura, o sistema híbrido, estabelecido pelo protocolo sanitário, prevê que as turmas sejam divididas em dois grupos de revezamento: enquanto, em uma semana, metade dos estudantes vão para o ensino presencial, a outra metade segue o conteúdo à distância.
Na semana seguinte, os que tiveram aulas presenciais passam para o ensino remoto e os demais vão para o presencial, como uma forma de garantir a adoção de normas de distanciamento.
A prefeitura também declarou que as escolas receberam materiais de biossegurança, como papel toalha, sabonete líquido e álcool em gel, totens para facilitar o acesso à higienização e equipamentos para medir a temperatura. Ao todo, são cerca de 70 mil alunos matriculados nas escolas.
Professores da rede municipal, no entanto, apontam que a volta às aulas presenciais não foi dialogada com a comunidade escolar (estudantes, familiares e profissionais da educação) e que as escolas apresentam inadequações que dificultam o cumprimento dos protocolos mínimos exigidos no cuidado para evitar a contaminação pelo coronavírus.
“O problema é que [o ensino híbrido] não está funcionando e a pandemia continua avançando estamos 97% dos leitos ocupados. E é impossível estar em dois lugares ao mesmo tempo, se o professor está na escola, em sala de aula, como ele vai atender os alunos que estão em casa? E as nossas escolas, sobretudo as rurais, não há sequer internet”, critica o professor Ronaldo Ferreira.
Além da sobrecarga de trabalho, Ronaldo conta que a falta de investimento em estrutura levou os professores a arcarem com os custos, usando a própria internet, celulares e computadores, além de terem perdido a privacidade de seu número de telefone particular para atender os alunos.
Proteção
Outro grave problema colocado por uma professora, que pediu para não ser identificada por medo de retaliação, é a falta de equipamentos de proteção individuais (EPIs). Os profissionais da educação receberam poucas máscaras, de péssima qualidade. Segundo ela, nas escolas muitas salas de aulas são pequenas, sem ventilação, janelas altas, que às vezes estão emperradas, além do tamanho das salas que não permite espaço suficiente para o distanciamento social. É comum, ainda, as escolas possuírem um único banheiro para todos os alunos.
“Nas creches, na educação infantil e nas séries iniciais é impossível os profissionais da educação manterem o distanciamento necessário, já que é preciso trocar fraldas, dar banho, trocar roupas, amarrar um cadarço, dar colo para as crianças”, aponta a professora.
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Contaminação
Ronaldo Ferreira, que leciona em duas escolas rurais em Uberlândia, relata que, no decorrer do mês, vários profissionais testaram positivo. Ele mesmo foi contaminado pelo coronavírus e trabalhou uma semana inteira, sem saber que estava infectado. Ele descobriu após fazer um teste por conta própria.
“Recentemente, perdemos uma grande profissional da educação que foi acometida em trabalho pelo vírus da covid. Isso a secretaria não fala, não divulga. E mesmo quando eu testei positivo, tive contato com meus colegas dentro da van, no ambiente escolar e nenhum foi afastado preventivamente. Eles seguem trabalhando normalmente”, denuncia.
Outro lado
Em coletiva de imprensa, no início deste mês, a secretária da Educação de Uberlândia, Tânia Toledo, apontou 17 casos de profissionais da educação contaminados por covid-19, em 12 escolas diferentes. O número de alunos infectados não foi informado.
A prefeitura foi procurada pela reportagem para comentar sobre o processo de afastamento dos profissionais e dos alunos, e para atualizar dados referentes a novas infecções. No entanto, não houve resposta até o fechamento desta matéria.
Edição: Larissa Costa