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Coluna

Fim de semana no parque

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“Chegou fim de semana todos querem diversão. Só alegria nós estamos no verão" - Foto: Marcello Casal Jr. / Agência Brasil
Eu com aquele olhar de Capitu as vi dentro do carro com os dois meninos

No último fim de semana estava em um ponto de ônibus, numa avenida movimentada em Belo Horizonte. Era sábado a noite e no ponto éramos mais ou menos seis pessoas. Lembro-me de duas senhoras, dois jovens, eu e uma outra pessoa.

Eu sentia o medo que as duas senhoras estavam dos dois jovens, que estavam como os nossos jovens urbanos das quebradas andam: usavam boné, calça estilo skate, camisa folgada e correntinha no pescoço. Estavam à 'pampa', tranquilos, fazendo seus planos para curtirem algum baile ou algum show. Estavam brincando um com o outro, sorrindo, curtindo a vida. É assim que tem que ser! Enquanto as duas senhoras estavam, aparentemente, em pânico. Com muito medo. Foi quando uma delas chegou bem perto de mim e disse:

- Moço, tudo bem?

- Tudo.

- Você não está com medo?

- Medo de quê?

- Desses dois aí. Desses delinquentes. Olha a cara de marginal deles.

- Que marginais e delinquentes, minha senhora? A senhora é muito louca, né? Me desculpe.

- Desses assassinos.

- Assassinos? A senhora pirou? Dá licença, né?

- Você não vê o Datena?

- Datena!?

- Sim, o Datena.

- Não, eu não vejo o Datena, senhora. Uma porcaria de programa.

- Deixa a gente ficar perto de você. Pode?

- Tudo bem, minha senhora. Mas os meninos não vão fazer nada. Eles estão querendo se divertir, namorar, vão pra balada ou algum show. A senhora tá viajando demais.

- O senhor é que pensa. Eles vão nos roubar.

- Fique tranquila, minha senhora. Fica de boa aí, beleza? Ônibus tá brotando daqui a pouco.

De repente, como em um conto de Machado de Assis Ou Nelson Rodrigues, para um carrão, último tipo, parecia novinho em folha. E desce um carinha, estilo galã de novela das oito, gritando:

- Perdeu, perdeu, perdeu. Todo mundo quieto, passando o celular, dinheiro, relógio. Não me engana não, velhas corocas.

O carinha branquinho e boa pinta fez a limpa na gente! Pura ironia do destino. Foi aquele pânico, aquele susto. As duas senhoras não paravam de chorar. O bandido galã levara tudo de todos nós. Elas não sabiam o número de nenhum telefone. Estava tudo no celular! Aliás, hoje em dia ninguém sabe mais número de telefone 'de cabeça'.

Chamamos a polícia que não serviu pra quase nada. Fizeram um boletim mequetrefe e foram embora. Se fosse uma manifestação, com certeza a polícia teria sido mais 'enérgica'.

Enfim, depois de um tempo, a mãe de um dos jovens que as senhoras estavam com medo chegou ao local. Foi muito solícita conosco, ofereceu-nos dinheiro para o ônibus e carona para as duas senhoras.

Eu com aquele olhar de Capitu as vi dentro do carro com os dois meninos, que meia hora atrás eram bandidos, delinquentes, assassinos…

E eu fiquei ali, à espera do ônibus, pensando em como a vida nos ensina. E veio logo à mente aquele velho ditado: “Deus escreve certo por linhas tortas”. Cheguei em casa e fui escutar Racionais:

“Chegou fim de semana todos querem diversão
Só alegria nós estamos no verão, mês de janeiro
São Paulo, zona sul
Todo mundo à vontade, calor céu azul
Eu quero aproveitar o Sol
Encontrar os camaradas prum basquetebol
Não pega nada
Estou à uma hora da minha quebrada
Logo mais, quero ver todos em paz.”

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Rubinho Giaquinto é covereador da Coletiva em Belo Horizonte.

Edição: Elis Almeida