Minas Gerais

INFLAÇÃO

Famílias mais pobres estão sofrendo mais com a alta dos preços

Produtos com maior peso no orçamento das famílias de baixa renda ficaram mais caros

Belo Horizonte |
Reprodução - EBC

Os pobres estão sendo mais atingidos pela inflação do que o restante da população. No acumulado de 12 meses, até maio de 2021, o custo de vida das famílias com rendas muito baixas cresceu 8,9%, com rendas baixas, 8,7%, e das famílias com rendas altas registrou crescimento de 6,3%, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.

Faltam políticas para segurar os preços de produtos essenciais

Em Belo Horizonte, a inflação para quem vive com renda entre 1 e 40 salários mínimos foi de 0,54% em julho e 8,62% nos últimos 12 meses, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Já o Índice de Preços ao Consumidor Restrito (IPCR), que mede os custos das famílias de 1 a 5 salários mínimos, registrou alta de 0,64% em julho e 10,64% em um ano. Os dados são do Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead/MG), vinculado à UFMG.

Produtos essenciais

A explicação para essa diferença é que a alta dos preços está atingindo principalmente os produtos que têm um peso maior no orçamento das famílias mais pobres, como alimentação, gás de cozinha e a conta de energia elétrica. Por outro lado, itens com maior peso para famílias de maior renda, no conjunto, tiveram uma alta menor ou, em alguns casos, até registram queda, como gastos com educação e vestuário.

Um dos fatores que conduziram a essa situação foi a forte desvalorização cambial. O dólar, que estava no patamar de R$ 3,65 em janeiro de 2019 e R$ 4,49 em fevereiro de 2020, fechou o mês de julho a R$ 5,21. A moeda brasileira é uma das que mais têm se desvalorizado no último período, fazendo com que produtos importados encareçam.

Salários não acompanham aumento dos preços

Além disso, há itens de alimentação que, embora produzidos no Brasil, são comercializados como commodities, cujo preço também é cotado em dólar. Ao mesmo tempo, vários países buscaram reforçar seus estoques durante a pandemia, contribuindo com a alta dos preços da alimentação. Um exemplo foi o que aconteceu com o preço da carne.

“A China passou a importar muita carne do Brasil. O produtor, que tem a opção de colocar a carne no mercado interno ou externo, joga o preço na prateleira para a cima”, exemplifica o economista Fernando Duarte, assessor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Ele acrescenta que movimento semelhante ocorre com outros alimentos, como o açúcar e o arroz.

A alta da energia elétrica é outra vilã dos preços, no momento em que o Brasil enfrenta uma das piores secas dos últimos 90 anos. Já o petróleo, matéria-prima indispensável na produção de combustíveis, gás de cozinha e outras mercadorias, também sofreu uma forte alta. O barril, que estava cotado a 22,74 dólares em março do ano passado, fechou o último mês em 76,33 dólares.

Para piorar, a política de preços da Petrobras, adotada pelos governos Temer e Bolsonaro, segue o preço internacional, sem medidas de controle dos preços dos derivados do petróleo para o consumidor brasileiro.

Governo se movimenta no sentido de retirar direitos dos trabalhadores

“O governo diz que vai deixar o preço variar, sob qualquer circunstância. Ora, ele já devia ter atuado no preço do petróleo. No caso dos alimentos, precisávamos ter algum estoque para conter os preços dos produtos. Então, também faltam políticas mais contundentes para segurar os preços de produtos essenciais. Na Europa, por exemplo, eles fazem subsídios. Enquanto isso, o Brasil entra nessa conversa de deixar o mercado atuar”, critica o economista Fernando Duarte.

Política do governo é aumentar juros

A mídia comercial tem noticiado que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, alegando o combate à inflação, em 2021, aumentou a taxa básica de juros por cinco vezes, a última das quais na semana passada, quando a taxa Selic passou de 4,25% para 5,25% ao ano. O raciocínio por trás dessa medida é aumentar juros para inibir o crédito, forçando uma queda do consumo e, por consequência, também dos preços.

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Isto porém, não seria um remédio eficaz para a carestia neste momento, quando o Brasil ainda tem um mercado consumidor bastante desaquecido. “A nossa inflação não se dá por um superaquecimento da economia. Haja vista que o índice de desemprego está em 14,7%. Logicamente, quando nossa população estiver vacinada e com outras perspectivas, o dólar vai abaixar, pode haver aumento das safras, os preços tendem a cair e o governo vai dizer que foi por causa do aumento dos juros, mas não foi”, pontua o economista.

Crescimento com desemprego e salários defasados

O governo tem comemorado a mudança nas projeções de crescimento da economia brasileira em 2021. No final de julho, economistas do mercado financeiro, por meio do boletim Focus, previram uma alta de 5,29% no Produto Interno Bruto brasileiro para este ano. Porém, este crescimento não necessariamente se traduz em melhoria nas condições de vida dos trabalhadores. Por dois anos consecutivos, a recomposição do salário mínimo aprovada pelo governo foi inferior à inflação do período.

“Os salários não conseguem acompanhar o aumento dos preços, os preços continuam em crescimento e a população compra cada vez menos. Estamos com uma taxa de desemprego próxima aos 15 milhões de desempregados. A economia informal está retomando, por conta da reabertura, mas em um patamar muito aquém do necessário. O governo não traz nenhum movimento em relação à distribuição de renda, muito pelo contrário. Ele se movimenta no sentido de retirar direitos dos trabalhadores”, comenta Fausto Augusto Junior, diretor técnico do DIEESE.

Edição: Elis Almeida