Desde 1995 igrejas e organizações populares realizam no dia 7 de setembro o grito dos excluídos. É um dia simbólico no país que mobiliza sentimentos patrióticos: pertença a um povo, unidade, amor à pátria, símbolos comuns. Sentimentos que constituem e dão identidade a um povo e são a base de um projeto de nação.
Mas o que deveria ser ocasião de celebração da fraternidade e compromisso com a construção de uma sociedade mais justa e fraterna (verdadeiro patriotismo), tornou-se ocasião de ostentação e exaltação do poder militar a serviço das elites do país (desfile militar, palanque das elites).
Situação é agravada pela pandemia política de um desgoverno
Frente a esse patriotismo elitista-militar (Brasil das elites), o Grito dos Excluídos ecoa como expressão e convocação de verdadeiro patriotismo (Brasil de todos):
- reúne igrejas, organizações populares, estudantes etc. em torno da justiça social que é o fundamento de um projeto ético-religioso de sociedade;
- denuncia as injustiças sociais, as violações e negações dos direitos humanos e a criminalização das lutas e organizações populares;
- celebra as lutas e conquistas sociais de comunidades e organizações populares;
- reivindica direitos de grupos e comunidades locais e políticas públicas que garantam direitos da classe trabalhadora e dos setores marginalizados da sociedade.
Como no ano passado, o Grito dos Excluídos acontece de novo no meio da pandemia da covid-19. Se uma pandemia é sempre uma tragédia, quando ela está associada à pandemia das injustiças e desigualdades sociais suas consequências são muito mais trágicas para as populações pobres.
No caso do Brasil, a situação é ainda mais agravada pela pandemia política de um desgoverno que banaliza a morte de milhares de pessoas e atenta contra a saúde pública, estimulando e provocando desrespeito às medidas de proteção sanitária.
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Quase 600 mil pessoas já morreram sem ter sequer um velório e um sepultamento digno. Muitas vidas poderiam ter sido poupadas se tivéssemos um governo e uma política de saúde que respeitassem o povo, a ciência, o dinheiro público e as autoridades sanitárias.
O desemprego cresceu assustadoramente. De agosto de 2020 a fevereiro de 2021 o número de pessoas vivendo na extrema pobreza passou de 9,5 para mais de 27 milhões. E a CPI da Covid tem revelado indícios graves de corrupção na compra de vacinas, envolvendo governo e empresas privadas.
Como cristãos e como sociedade organizada não podemos ficar indiferentes a essa situação nem cruzar nossos braços. Temos que reagir e gritar por “vacina no braço e comida no prato”, por auxílio emergencial, por trabalho e moradia, pela suspensão de reintegração de terra, contra a corrupção na compra de vacinas.
O grito fundamental é sempre o mesmo: Vida em primeiro lugar! E isso se traduz e se concretiza sempre na luta por participação popular, saúde, comida, moradia, trabalho e renda.
A pandemia da covid-19 exige de nós muito cuidado e responsabilidade com a saúde do nosso povo. Mantendo sempre o cuidado com a saúde pública, importa usar nossa criatividade e fazer ecoar nossos gritos.
Muita coisa pode ser feita na preparação e realização do grito: círculos bíblicos; debates online; encontros de formação, live cultural; programas de rádio; momentos orantes e celebrativos; pequenos vídeos com gritos locais e nacionais a serem postados nas redes sociais; faixas e outdoors; atividade de rua na comunidade ou bairro com cruzes, velas, bandeiras, cartazes (caminhada, alvorada); passeatas, protestos etc.
Importa fazer ecoar nossos gritos. Importa despertar e congregar sentimentos de fraternidade e solidariedade. Importa mobilizar e articular forças sociais e políticas para a reconstrução do país segundo a justiça social que se concretiza na afirmação e garantia dos direitos dos pobres e marginalizados – sinal, critério e medida de realização do reinado de Deus em nosso meio que é um reinado de fraternidade, justiça e paz.
Vida em primeiro lugar!
Na luta por participação popular, saúde, comida, moradia, trabalho e renda já!
Francisco Junior Aquino é presbítero da Diocese de Limoeiro do Norte – CE; professor de teologia da Faculdade Católica de Fortaleza (FCF) e da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP).
Edição: Elis Almeida