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Crônica | Sururu

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O povo gritava: bruxa do 71! Fofoqueira! - Programa Chaves
Dona Candinha descobriu que Bentinho faria um festão para a filha e ficou com inveja

O bicho pegou, mermão! Assim dizia o povo no boteco do Paulão. Uma fofoca foi o estopim do Sururu na casa do Bentinho. A Dona Candinha, a linguaruda do bairro, deu com a língua nos dentes. Sobrou até para o padre da quebrada, que passou por lá para abençoar a aniversariante. O pai de santo saiu correndo. O pau quebrou! 

Bentinho, que estava desempregado e devendo a Deus e todo o mundo, queria fazer uma festa de 15 anos para sua filha de qualquer jeito. É uma tradição na quebrada. Quase que obrigação ter a festa de 15 anos das meninas. Tinha lhe prometido num jogo do Galo e Flamengo pelo Brasileirão. Só que as dívidas lhe tiravam o sono. 

Dona Candinha, que toma conta da vida de todo mundo da quebrada, começou a desconfiar da movimentação durante a semana na casa do Bentinho. Estranhou o volume de entrega na casa dos Bentos. Primeiro, foi a distribuidora de bebidas. Depois, foi a ornamentação da festa. O bolo. O vestido da debutante. 

Ela descobriu que Bentinho faria um festão para a filha. Ficou irada e com muita inveja. Ela nunca teve uma festa dessas. Era seu sonho que não foi realizado. Espalhou a notícia ineditamente. Os credores do Bentinho não gostaram nada da história e prometeram fazer o maior Sururu no dia. Combinaram que iriam juntos e aprontar na festa da garota. 

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Quando a festa estava no seu apogeu, eles começaram a chegar um por um. O dono da padaria foi o primeiro. Depois, o dono do açougue. Do supermercado. E foi enchendo de cobrador. Até um penetra entrou fingindo ser gerente de banco. 

Só que o pagode estava bão, o churrascão de primeira e a cerva bem gelada. Os planos foram por água abaixo. Eles resolveram que iriam curtir a festa. Até o mais feio deles já tinha arrumado um rabo de saia. 

Lá pelas tantas, Dona Candinha, de pura inveja e com muita raiva, começa a instigar a discórdia e a lembrar das dívidas do Bentinho. Só que o feitiço virou contra o feiticeiro. No caso, a feiticeira. 

Dona Ramona deu-lhe um tapa no pé do ouvido e mandou-lhe calar a matraca. Aí, o pau quebrou contra Dona Candinha. O povo gritava: bruxa do 71! Fofoqueira! 

Do nada, Dona Terezinha joga um copo de cerveja na cara de Dona Candinha. Dona Deola falou poucas e boas pra ela. Era um antigo acerto de contas. Literalmente. Todo mundo queria se vingar. 

Quem a salvou foi o Bentinho:

- Gente, deixem Dona Candinha balangar os beiços. Morro de rir dela. Ela é como uma tia pra mim. Ela mora no meu coração!  

Os ânimos se acalmaram. Dona Candinha já estava melhor e tomando todas. Imaginando que a festa era pra ela. Começou a delirar. O pagode voltou a mil por hora. O povo do pagode, para tirar uma com Dona Candinha, começou a cantar: 

“Dona Maria tá com bronca da vizinha
E manda a mesma pra tudo quanto é lugar
Mas a vizinha, osso duro de roer,
Chama a Maria de maria-vai-com-as-outras, eu sei
Mas Dona Maria começou a imaginar
Um apelido que não fosse popular
É aí, quando a vizinha enche a cara de pitú
E passa na esquina é o maior sururu

Pega ela, peru, pega ela, peru
Pega ela, peru, pega ela, peru
Pega ela, peru, pega ela, peru
Pega ela, peru, pega ela, peru”

 

Edição: Elis Almeida