Minas Gerais

INSPIRAÇÃO

Artigo | Coração Civil, Sr. Milton, conjuntura, coragem: 7 de setembro sonho de amor Brasil

"A coragem é um exercício. Não existe uma receita pronta"

Belo Horizonte | Brasil de Fato MG |
Na imagem, mística do VI Congresso Nacional do MST, em Brasilia. - Foto: Mídia NINJA

Há dias que tenho pensado no que escrever, mas sem querer falar do habitual desta conjuntura. Pensei em escrever sobre Sr. Milton Nascimento, desde já peço desculpas por tamanha ousadia, mas quero agradecê-lo em vida por ter permitido ser canal de uma música tão poderosa de tamanho universal, que cura, move e me enche de coragem. É um rouxinol que me lembra que é só não temer. Há dias para ouvi-lo baixinho, embaixo das cobertas neste inverno belorizontino, e há outros de colocá-lo no último volume para dar conta da vida.

Certamente, a música desse mineiro do mundo também me enraíza na realidade brasileira. De Ponta de Areia, passando por Morro Velho, San Vicente e por fim Coração Civil. Bem, e falando de Coração Civil, mais logo é 7 de Setembro e tantas coisas se anunciam. Voltamos à conjuntura.

Neste 7 Setembro, o compromisso que o povo brasileiro deve ter é atravessar este período vivo

Por esses dias, lembrei de Ricardo Gebrim, que uns anos atrás, no interior de Minas Gerais, conversando com estudantes da recente criada Universidade Federal dos Vales Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), dizia que a história não era linear, ao explicar o caminho das grandes revoluções. Essas palavras ficaram em mim como um aviso de que tempos obscuros se avizinhavam no horizonte da luta de classe brasileira.

Há exatamente cinco anos estamos vivenciando um golpe orquestrado pela elite conservadora, misógina e racista deste país e o estágio atual é o governo genocida de Jair Bolsonaro, cuja necropolítica da inoperância de combate ao vírus da covid matou mais de 500 mil pessoas e aprofundou a miserabilidade do povo brasileiro. 

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De certo, para seguir caminhando é necessário cultivar a esperança, porém sem o romantismo com que afirmamos esse sentimento, que como me disse a minha mais velha, às vezes a esperança é concebida como negação de um direito. Tal como o velho jargão “tenho esperança que um dia melhore”, sem movimentação, sem contestação, sem afronta, sem crise não é possível mudar e para ocorrer mudanças faz necessária a coragem.  “A coragem vem antes da esperança”, Kota Tabalende.

Pode ser também João Guimarães Rosa com o correr da vida que embrulha tudo tal como a conjuntura e esquenta a cabeça com cada ida ao supermercado, com cada negativa de mais uma entrevista de trabalho, sem contar o preço do gás e a tarifa de luz, que mais uma vez subiu. Ainda aperta o marco temporal sendo julgado pelo STF e o Estado mais uma vez querendo violar e atentar contra o direito de existir dos povos originários. Em outro momento, tudo pode esfriar e afrouxar, mas a vida requer da gente coragem!

Restou à população a prática antiga da solidariedade

A coragem é um exercício. Não existe uma receita pronta.  E tem dias que no lugar dela vem a inércia, a procrastinação, o cansaço e tudo fica enfadonho. Outro dia, no grupo de WhatsApp da família de santo, diante de mais um reforço para o cuidado em relação à covid devido às variantes, nosso mais velho escreveu “vou mofar”. Tal desabafo se deu pelo fato de estar em isolamento social há mais de um ano e meio. Sem contar com a frustração mediante o descaso institucional do governo federal que debochou das medidas de contenção.

De fato, vivemos um pseudo distanciamento e isolamento social, diante da triste realidade que a grande parte da população não tem condições materiais para seguir as recomendações dos órgãos competentes de prevenção ao vírus. Existe uma exaustão coletiva de um procedimento que não foi dada as condições institucionais para sustentá-lo, sem política pública, sem renda básica, sem exemplo pedagógico do presidente da República e seus correligionários. Restou à população a prática antiga da solidariedade.

Que Maria Maria nos inspire a ter manha, graça, sonhos, pois já trazemos essa estranha marca de ter fé na vida

Bom, neste 7 Setembro, o compromisso que o povo brasileiro deve ter é atravessar este período vivo, assim como fizeram nossos ancestrais. Ainda que queiram nos matar de fome, à bala, de covid ou acabar com a nossa capacidade de fazer poesia. Quem for às ruas, é importante manter o autocuidado e cuidar do coletivo. Não ficar sozinha ou sozinho. Seguir todas as recomendações das organizações sociais.

Esteja atenta e atento com o uso das redes sociais, use-a como ferramenta democrática. A democracia é um princípio coletivo, assim como a sua defesa. Não existe herói ou heroína. Use máscara, álcool gel e beba água. Neste dia, também use a criatividade, escute aquela música que te contagia, leia um livro, recite uma poesia em voz alta, beije, abrace, amasse, viva momentos felizes.

Por fim, como eu queria só falar do Sr. Milton Nascimento, que Maria Maria nos inspire a ter manha, graça, sonhos, pois já trazemos essa estranha marca de ter fé na vida.  

*Andreia Roseno/Makota Kinanjenu é assistente social e mestranda em Ciência Política da Universidade Federal da Bahia-UFBA

Edição: Larissa Costa