Desde meados dos anos de 1970, quando estava ainda na Faculdade de Economia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, já escutava dos meus ilustres professores o salto que o grande Dragão Asiático Chinês daria nas próximas décadas. Muitos, perplexos, não acreditavam nisso, pois estávamos acostumados apenas a pensar na Europa e nos EUA como as regiões mais ricas.
Segundo o historiador econômico Paul Bairoch, a China e a Índia, até o início do século XVIII se destacavam com o posto de nações mais ricas. Após a Revolução Industrial, no entanto, a Inglaterra, centro dessa Revolução e, posteriormente outros países da Europa Continental e também os EUA, passaram por um acelerado desenvolvimento das forças produtivas, o que os levou a serem os principais centros econômicos do mundo.
China retirou 800 milhões de pessoas da linha de pobreza
Essa nova fase do capitalismo, reforça os laços da dominação colonial (ou semicolonial), pois na busca de matérias-primas surgem novos mercados, o que acarreta uma corrida imperialista entre as nações. Isso traz consequências devastadoras às tradicionais manufaturas chinesas e indianas, devastando-as por todo o século XIX.
Já, no século XX, os EUA e a Europa Ocidental vão se consolidar como os grandes centros da economia global. Durante a Segunda Guerra Mundial e após o atentado criminoso dos EUA ao Japão; principalmente ao lançarem as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, os EUA decidem “ajudar humanitariamente” aquele país. Após esse apoio, o Japão cresce muito rápido industrialmente, o que levará a ser a terceira economia mundial.
A partir dos anos de 1970, Hong Kong, Cingapura, Taiwan e Coreia do Sul destacam-se, formando o chamado Grupo dos Tigres Asiáticos, reunindo economias que tiveram um desenvolvimento econômico muito bem-sucedido aliado ao processo de industrialização. As condições materiais dos chamados Tigres Asiáticos, hoje em dia, são boas para a maioria da população.
Revolução e reformas
Em paralelo a isso, a China apresentava médias de crescimento econômicos elevados desde a Revolução de 1949, no governo de Mao Tsé-Tung, mas só vieram a se consolidar a partir das reformas de Deng Xiaoping, em 1978 e 1979, fazendo com que o país passasse a ter grandes taxas de expansão econômica.
Hoje em dia, na China, tem ocorrido frequentes elevações dos salários e muitos avanços sociais. O dinamismo chinês é evidente. As ambições chinesas são claras, o que fazem com que as tensões, não só econômicas, mas geopolíticas, entre os EUA, Alemanha e outros países centrais cresça.
Investimentos chineses caíram 74% no Brasil
No início de 2013, Xi Jinping assume o governo da China, dando início a mais uma etapa do desenvolvimento da economia chinesa, mantendo um crescimento notável da economia em meio à crise econômica daquele ano, fundamentado nos investimentos em infraestrutura e na exportação.
As reformas políticas ocorridas na China nos últimos anos, mantiveram a perspectiva de crescimento econômico como componente principal, o que leva agora a uma preocupação maior em produzir uma sociedade mais equilibrada, do ponto de vista social, em face do grande crescimento urbano e de incremento no mercado consumidor interno. Acredita-se que o país até 2030 terá cerca de 1 bilhão de pessoas pertencentes à classe média.
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No final de 2018, a China completou 40 anos das reformas, o que seus líderes chamaram de socialismo de mercado com características chinesas. O que levou o país a se tornar a segunda maior economia do mundo, retirando inclusive, 800 milhões de pessoas da linha de pobreza.
2020: única economia a crescer
A partir do mês de abril do ano de 2020, a China testou a sua moeda digital; o renminbi ou yuan digital em quatro de suas principais cidades: Shenzhen, Suzhou, Chengda e Xiong’an, um distrito do sul de Beijing.
Isso, nada tem a ver com as criptomoedas (bitcoin), é uma falácia o que dizem. O renminbi digital terá como lastro a moeda corrente chinesa e será controlada pelo Banco Central. Esse dinheiro é atrelado a um sistema de geração de valor, que entrará em cena para competir com o sistema internacional de pagamento em dólar.
Segundo o jornal “China Daily”, essa é “uma moeda digital soberana que fornece uma alternativa funcional ao sistema de liquidação do dólar e atenua o impacto de quaisquer sanções ou ameaças de exclusão, tanto em nível de país quanto de empresa”. Ainda: “pode facilitar a integração nos mercados de moedas negociadas globalmente, com um risco reduzido de perturbações de inspiração política”.
O PIB da China, devido à pandemia que começou em 2020, cresceu apenas 2,3%, naquele ano, mais fraco crescimento em 44 anos, mas que fez do país, a única grande economia a ter expansão. Mesmo com a recuperação da segunda maior economia do mundo perdendo força, a China, conseguiu crescer 7,9% no segundo trimestre de 2021, ultrapassando sua meta de crescimento anual de 6%. Sua economia avançou 18,3% na comparação anual, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas.
Vemos a expansão e o crescimento da China em relação a vários países, no entanto, graças a estúpida política econômica do nosso desgoverno, bem como à política de relações internacionais que estamos mantendo com vários países, os investimentos chineses caíram 74% no Brasil e 0,4% no mundo.
Antônio Manoel Mendonça de Araújo é professor de Economia, conselheiro do Sindecon/MG e ex-coordenador da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED-MG)
Edição: Elis Almeida