Minas Gerais

REALIDADE DURA

Editorial | Dois retratos do Brasil

O que mais cresce no Brasil é a miséria

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
É difícil imaginar que o homem que tem tempo e dinheiro para fazer turismo do outro lado do mundo, seja justamente um representante do povo que revira o lixo e colhe ossos para se alimentar - Reprodução/Redes Sociais

Em mais uma semana de desgoverno no Brasil, viralizaram nas redes dois retratos fiéis e duros da realidade que vivemos. 

O primeiro é a foto de Eduardo Bolsonaro fantasiado de “sheik” em Dubai, o filho de Jair Bolsonaro faz parte da comitiva brasileira que está no país árabe em missão oficial para a Exposição Universal 2020, a Expo 2020. 

É preciso solidariedade entre os que sabem quanto custa sustentar uma família

O segundo é um vídeo de famílias disputando espaço para revirar o lixo em busca de comida em uma região nobre de Fortaleza, Ceará. É difícil imaginar que as duas imagens retratem pessoas de um mesmo país e que o homem que tem tempo e dinheiro para fazer turismo do outro lado do mundo, seja justamente um representante do povo que revira o lixo e colhe ossos para se alimentar.

Apesar de parecerem extremos da realidade, esses dois retratos refletem justamente o que os índices sociais e econômicos têm apresentado em forma de gráficos, tabelas e números: o que mais cresce no Brasil é a miséria - que hoje atinge mais de 14 milhões de brasileiros e brasileiras, e o número de bilionários - que aumentaram seu patrimônio em 67% em relação ao ano passado. 

De quem estamos mais próximos?

Se somarmos a isso os impactos da inflação e do desemprego fica ainda mais fácil de enxergar o que significa o aumento da desigualdade social. E nessa polarização entre os ricos e os pobres é importante se questionar de quem estamos mais próximos. Se, é de quem precisa do emprego e busca o auxílio para pagar as contas e afastar o fantasma da geladeira vazia, ou, se é de quem está fazendo viagens internacionais com a família inteira. 

Essa reflexão é ao mesmo tempo muito dolorida e muito didática para entender de qual lado estão esses tantos atores da política brasileira. Isso porque, para sanar os danos causados pela covid-19 e pela perda de 600 mil vidas, é necessário dedicação que não cabe nem nas 24 horas do dia, que dirá entre passeios pagos pelo Estado brasileiro.

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Nos versos da música “Lágrimas de Odé” o rapper paulista Coruja BC1 (que lançou música nova na semana passada) diz o seguinte: “Não deixei a guerra entrar em nosso terreiro / Se é nós contra nós, nós que morre primeiro”. 

A lição é importante para um momento de polarização tão forte da realidade, porque será preciso muita unidade entre os que sabem quanto custa sustentar uma família no Brasil de Bolsonaro recebendo um salário mínimo, para que nunca mais sejamos retratados pela fome de uns às custas das “gracinhas” de outros.

 

Edição: Elis Almeida