Catracado é o nome que se dá ao passageiro que pagou a tarifa e passou pela catraca
Todo dia é a mesma coisa: você se arruma para ir ao trabalho, chega ao ponto de ônibus e espera mais tempo do que gostaria até que, finalmente, ele aparece. Cumprimenta o motorista, paga a passagem e pá! Sem saber, você foi catracado. Sim, a palavra é esta: catracado. É o nome que se dá ao passageiro que pagou a tarifa e passou pela catraca.
A cada ano, o transporte público de uma cidade como Belo Horizonte tem mais de 350 milhões de passageiros catracados. Ao invés de considerar o número de pessoas que tiveram acesso ao serviço de transporte, as empresas de ônibus e a prefeitura fazem todos os seus cálculos em função da quantidade de gente que passa pela catraca, a infeliz catraca – talvez você chame de roleta, o que não melhora a situação.
E não para por aí. Crianças de até cinco anos não pagam passagem, mas também não podem passar pela roleta, porque o “sistema” não vai entender que alguém possa ter acesso ao ônibus sem pagar. O resultado é que, para acompanhar seus familiares catracados, as crianças se arrastam entre o assoalho do ônibus e a maldita catraca. Na melhor das hipóteses, convoca-se um adulto capaz de carregar a criança por cima daquele troço de ferro no meio do caminho.
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Ao menos para as crianças de BH, a situação pode melhorar um pouco em um futuro próximo. A Câmara de Vereadores aprovou um projeto de lei que autoriza que as crianças passem normalmente pela catraca, sem precisar se arrastar pelo chão sujo do ônibus. No próximo dia 10, o projeto deve ser enviado para sanção do prefeito, o que esperamos que aconteça em breve.
Agora, cá pra nós, bom mesmo seria resolver o problema de vez, cortar o mal pela raiz – leia-se, acabar com a tal catraca. A mudança talvez pareça difícil à primeira vista, mas a verdade é que não seria nada de muito revolucionário. Aliás, já funciona assim em vários países, que costumam ter fiscais controlando quem pagou a passagem. Em outros casos, o transporte é de graça e não precisa de ninguém para conferir pagamento. Catraca para quê?
Não, não é pergunta retórica. Para que serve a catraca, se poderíamos ter fiscais ou mesmo transporte gratuito? A resposta é tão simples quanto triste. A catraca serve para dividir aqueles que podem pagar pelo transporte e aqueles que não podem. Logo ao entrar no ônibus, é possível perceber quem viaja do lado do motorista, sem ser catracado. Os que se aventuram a passar para “o lado de lá” da catraca sem pagar precisam fazer isso de um jeito, digamos, esparrado (salve galera do pulão!). Essas pessoas ficam ali expostas, para que qualquer um saiba que elas cometeram o “crime” de usufruir seu direito ao transporte.
Ainda falta um longo caminho para o transporte realmente ser um direito social. Na lei já está escrito, mas ainda tem muita catraca para cair no país. Por falar nisso, já ouviu o álbum do bloco Pula Catraca? Corre lá, vale a pena. “Ô, ô, ô, tira essa catraca daí…”
Leonardo Assis é integrante do movimento Tarifa Zero BH
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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal
Edição: Larissa Costa