As festas de natal e ano novo chegaram, e parece que quase todas as famílias brasileiras vão se reunir. Estevão Urbano Silva, médico infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia, conversou com o Brasil de Fato MG sobre a atual situação da pandemia. Afinal, podemos nos encontrar ou cancelamos as festinhas?
Brasil de Fato MG – A grande questão do momento é a variante ômicron do coronavírus. Na semana passada, o secretário municipal de Saúde de Belo Horizonte, Jackson Machado, anunciou que há três casos confirmados em BH e outros dois em investigação. Isso é preocupante?
Estevão Urbano – O que sabemos é que os casos da ômicron em pequeno número já estão no território brasileiro, alguns em São Paulo, e em Belo Horizonte aguardando confirmação. É uma variante muito perigosa mais pelo desconhecimento. Não temos certeza se ela é mais transmissível, ou mais agressiva, ou se foge à ação das vacinas.
Enquanto tivermos dúvidas, a ômicron é considerada perigosa
Alguns estudos iniciais apontam que ela pode ser menos agressiva e, portanto, não causar uma mudança panorâmica na dinâmica da pandemia. Mas enquanto tivermos dúvidas, ela será de risco, perigosa e aumenta muito o nosso alerta. Não só pelo que ela pode causar, mas porque nos leva a pensar que outras variantes podem aparecer com características que piorem a pandemia.
Para não gerar variantes, o planeta tem que avançar na vacinação, formular políticas globais – pois as pessoas se movem muito rapidamente na Terra –, senão fica muito difícil controlar ou eventualmente finalizar a pandemia.
É verdade que essa variante do coronavírus é menos mortal do que as que já enfrentamos?
Existe uma possibilidade pequena de que, ao se mutar e se transmitir mais, a variante tenha perdido alguns caracteres de agressão. Nós não podemos falar nada ainda, pois são poucas pessoas pesquisadas e o cenário é ainda muito inicial. Os próximos 60 ou 90 dias é que nos confirmarão o real comportamento dessa cepa.
O que você indica para as festas de fim de ano? Muitas famílias irão se reunir, as passagens aéreas e de ônibus estão praticamente esgotadas. Há algum meio termo? É indicado que as famílias se encontrem?
O ideal era que as festas não ocorressem, mas sabemos que as pessoas estão cansadas e os números no Brasil estão bem melhores, o que gera a expectativa de que podemos nos encontrar. Caso as famílias queiram realmente se reunir, algumas medidas de segurança podem ser usadas para minimizar o problema: fazer festas para poucas pessoas, em ambientes ventilados, com poucos beijos e abraços.
Faça festas para poucas pessoas e em ambientes ventilados
As pessoas devem evitar tudo o que possa gerar grande volume de gotículas, como cânticos, gritos e manter o uso de máscara todo tempo, exceto para comer ou beber. As conversas têm que ser mantidas com máscaras.
E principalmente, se for possível, garantir que todos estejam vacinados e, ainda mais, testados 24h antes da festa. Esses são os cuidados ideais.
Sobre o futuro da pandemia, você arriscaria alguma previsão para 2022?
É muito difícil prever, por causa das variantes que estão aparecendo e o cenário de piora na Europa. Algum fenômeno está acontecendo na Europa que não era esperado, em que vários países estão com piora de casos, inclusive de óbitos. Sabemos que a ômicron não é a responsável por esse aumento. As pessoas, depois de vacinadas, começaram a perder a sua imunidade por que lá não receberam a dose de reforço? Ou será que é porque ainda existe um percentual grande de pessoas não vacinadas que mantém a pandemia em altos índices? Isso é preocupante, pois o cenário da Europa tende a chegar em dois ou três meses ao nosso país.
O cenário da Europa é preocupante, pois tende a chegar ao Brasil
Por tudo isso, é arriscado fazer grandes liberações, grandes festas, como de ano novo e carnaval, já que não sabemos o que explica o aumento das infecções na Europa e não sabemos o que a ômicron pode impactar. Na dúvida, é melhor arriscar pelo excesso de cuidado do que pela falta.
Poderíamos liberar tudo e não acontecer nada devido à massificação da vacina (ótimo!). Mas poderíamos colher uma péssima notícia que seria a piora da pandemia. Eu avalio que não estamos na hora de arriscar. É mais sensato manter as restrições para garantir um 2022 num curso de melhora.
Edição: Larissa Costa