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Ícone LGBTI+, Cintura Fina é reconhecida cidadã honorária de Belo Horizonte

Personagem foi precursora da luta LGBTI+ na capital mineira entre as décadas de 1950 a 1970

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
Cintura Fina foi cozinheira, faxineira, lavadeira, gerente de pensão, profissional do sexo, alfaiate, cabeleireira e gari, e aprendeu a usar a navalha para se proteger contra a transfobia - Foto: Divulgação

A primeira travesti de grande visibilidade de Belo Horizonte teve seu papel reconhecido pela Câmara Municipal da cidade. Por indicação da vereadora Iza Lourença (PSOL), Cintura Fina foi intitulada cidadã honorária da capital mineira, em cerimônia realizada na última sexta-feira (17) no Centro Cultural Liberalino Alves de Oliveira, Mercado da Lagoinha.

O reconhecimento é considerado uma revisão importante para a memória LGBTI+, tanto belohorizontina como do país. Cintura Fina teve enorme destaque em sua época pelas suas ações e a mídia comercial a retratava com diversas distorções.

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“Cintura teve sua vida e imagem exploradas de forma cruel”, afirma a vereadora Iza. “Quando a imprensa dizia que a violência era uma constante em sua vida, deveria ter dito sobre a violência que ela sofria por ser quem era. Essa estigmatização, reforçada na abordagem da mídia da época justificava, também, a violência do Estado contra ela e legitimava as políticas de criminalização e higienização para controle social do nosso povo”, completa.

Quem foi ela?

Cintura Fina foi cozinheira, faxineira, lavadeira, gerente de pensão, profissional do sexo, alfaiate, cabeleireira e gari, e aprendeu a usar a navalha para se proteger contra a transfobia. Não foram poucas vezes que, vítima de injúria ou assistindo injúrias a homossexuais e colegas de trabalho, Cintura Fina brigou e deixou homens desacordados.

Essa força, encarada hoje como resistência, foi motivo para que a imprensa comercial, as instituições da Segurança Pública e o Judiciário traçassem uma imagem negativa de sua índole, seu temperamento e sua personalidade, como destaca o escritor Luiz Morando, autor do livro “Enverga, mas não quebra: Cintura Fina em Belo Horizonte”.

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Em sua opinião, a Lagoinha, bairro onde aconteceu a cerimônia de cidadã honorária, também teve tudo a ver com seu simbolismo. “Foi o bairro onde Cintura Fina transitou e morou, onde ela sempre teve um reconhecimento da sua força, da sua resistência e da sua habilidade”, comenta Morando.

Edição: Larissa Costa