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Chilenos lutam por aquilo que ainda temos no Brasil: SUS, INSS, CLT, educação pública

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No Chile, a esquerda moderada falhou ao fazer mudanças superficiais no ultraliberalismo - Foto: MARTIN BERNETTI (AFP)
Chile e Brasil tem experiências históricas distintas em termos sociais e políticos

A eleição de Gabriel Boric, um jovem que emergiu das lutas sociais no Chile, é um feito espetacular e deve ser comemorado por toda a esquerda brasileira; uma vitória que impulsiona a “virada à esquerda” na América Latina.

Mas é preciso cuidado nas análises políticas. É muito comum setores mais radicais da esquerda brasileira contraporem a “esquerda de ruptura” de Boric à esquerda de “conciliação de classes” de Lula.

Chile tem 40 anos de ultraliberalismo e Estado Mínimo

Mas veja: o programa de governo de Boric, um avanço “extraordinário” para o Chile, é muito “atrasado” para o Brasil. Pode parecer surpresa para muita gente: como pode um líder da “conciliação de classes” no Brasil ter um programa de governo mais avançado do que um “líder radical” no Chile?

Chile e Brasil tem experiências históricas distintas em termos sociais e políticos. No Chile, na década de 1980, o ultraliberalismo foi implantando pelo ditador sanguinário, Augusto Pinochet; naquela mesma década a Constituição de 1988, a “Constituição Cidadã”, lançou as bases para o nosso Estado Social em nosso país.

O Chile tem 40 anos de ultraliberalismo e Estado Mínimo e o Brasil ainda tem um Estado Social protegido pela Constituição. O Chile elegeu uma Constituinte, que tem como centralidade a adoção daquilo que temos no Brasil: SUS, INSS, CLT e educação pública.

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A transição de um Estado ultraliberal para um Estado Social, no Chile, é uma tarefa gigantesca e vai encontrar dificuldades enormes. O programa de governo de Boric propõe uma transição gradual nos próximos oito anos, com a elevação da carga tributária de 21% para 28% do PIB, ainda assim inferior à do Brasil, de 33% do PIB.

Na Previdência, por exemplo, o programa de governo de Boric prevê a estatização dos fundos de pensão, uma medida importante, mas mantém as contas individuais; sistema que será complementado por uma previdência solidária que garantirá renda de R$ 1.700,00. Veja só: no Brasil nossa previdência solidária (INSS) tem teto de R$ 7.000,00, a partir de janeiro, e a previdência individual é complementar à previdência solidária.

Faço a comparação do programa de governo de Gabriel Boric e de Lula para parabenizar e reforçar a importância da vitória do líder chileno. No Chile, a esquerda moderada falhou ao fazer mudanças superficiais no ultraliberalismo, e o programa de Boric, ainda que aquém do Estado Social, que temos no Brasil é um enorme avanço para a população daquele país.

José Prata Araújo é economista e especialista em direitos sociais

Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

Edição: Elis Almeida