O crime da Vale na Bacia do Paraopeba, com o rompimento da barragem em Brumadinho, completa mais um ano. Datas de aniversário de grandes tragédias são momentos de relembrá-las para que não sejam esquecidas. Lamentavelmente, por descaso da mineradora já condenada pela Justiça, esses têm sido momentos de se reviver a dor.
São três anos de sofrimento e desgaste das pessoas atingidas. Foram 272 vidas retiradas e seis pessoas continuam desaparecidas, o rio destruído, as águas e os solos contaminados, rendas precarizadas, sonhos arruinados e elevados danos econômicos, sociais e à saúde. Portanto, continua a luta por justiça, pela condenação dos responsáveis pelo crime e pela reparação integral e justa dos danos.
Com as fortes chuvas que caíram na região nos últimos dias, o sofrimento das vítimas só aumenta. Comunidades de Esmeraldas, como Taquaras, Padre João, Vista Alegre, Vinháticos, dentre outras, desse e de outros municípios da bacia, se encontram atualmente inundadas ou ilhadas. Muitas famílias são obrigadas a saírem de suas casas, perdem bens e tem a sua saúde física e mental comprometidas.
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Na Bacia do Paraopeba, o problema das chuvas se agrava ainda mais em decorrência do acúmulo de rejeitos de minério presentes no rio em função do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho. As enchentes carregam, além de sedimentos naturais do rio, um grande volume de rejeito de minério de ferro, depositado no leito. Quando essas águas invadem as comunidades, além dos transtornos e perdas materiais, são atingidas áreas produtivas para a agricultura, pastagens e criação de animais, que tem sua fertilidade e capacidade produtiva diminuída devido a alterações físicas e químicas provocadas pelo rejeito.
De acordo com os estudos realizados pelo Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (Nacab), uma das entidades que presta assessoria técnica independente às comunidades atingidas na bacia do Paraopeba, esses danos são parte do cenário de uma tragédia continuada provocada pelo crime da Vale, cujas nefastas consequências não se encerraram com o rompimento. A responsável tem nome, CNPJ e é reincidente em crimes de rompimentos de barragem. Por isso, deveria ser exemplarmente punida para que outros crimes semelhantes não mais ocorram.
Portanto, o crime da Vale na Bacia do Rio Paraopeba segue destruindo vidas. A Assessoria Técnica Independente Paraopeba – Nacab tem acompanhado essa realidade de perto, estando em constante diálogo com as comunidades para assessorar e lutar junto com as pessoas atingidas por uma reparação integral e justa. Neste momento de intensas chuvas, a assessoria não medirá esforços para ajudar. Às famílias, que agora revivem as consequências do crime, prestamos toda a nossa solidariedade e apoio. Estamos juntos nesta caminhada.
Flávio Bastos é coordenador geral da Assessoria Técnica Independente Paraopeba Nacab
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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal
Edição: Larissa Costa