Moradores do distrito de Macacos, em Nova Lima (MG), realizaram na tarde de sexta-feira (14) um protesto para denunciar ações da mineradora Vale, que estão deixando a comunidade ilhada e sem água há dias. Na mesma hora do ato, uma estrada reaberta pelos moradores na quinta (13) foi fechada por um trator, com apoio da Polícia Militar e da Guarda Civil Municipal.
#Urgente MACACOS (MG): Força policial e trator fecham estrada que moradores haviam aberto “na marra”, para via de salvamento em caso de rompimento da barragem da Vale. Por culpa de um muro da mineradora, moradores seguem ilhados.
— Brasil de Fato MG (@brasildefatomg) January 14, 2022
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A estrada do Engenho, uma via antiga dos moradores da região, estava fechada por determinação da Defesa Civil por estar localizada na Zona de Autossalvamento (ZAS) da barragem B3/B4, da Vale, que está em nível 3 de insegurança. Com as outras vias interditadas, os moradores questionam o fechamento da estrada.
“A alegação da Vale é que é uma via perigosa porque passa dentro da ZAS. Ora, todas as vias de Macacos passam na ZAS”, questiona Fernanda Tuna, professora e moradora de Macacos. “A que está todo mundo usando para sair daqui, eu inclusive usei ela ontem, é cheia de placas de zonas de inundação”.
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A comunidade do Engenho, principal afetada com o fechamento da via, tem o seu trajeto aumentado em cerca de 30 quilômetros para sair da localidade. No caso de um rompimento, a população teria de passar por zonas de inundação, segundo relata o engenheiro ambiental Felipe Gomes, assessor da vereadora de Belo Horizonte Duda Salabert (PDT), que tem acompanhado a situação.
"A estrada do Engenho foi aberta para permitir que a população do Engenho, no distrito de Macacos, saia com menos risco. O atual trajeto passa por diversas zonas de inundação. Aumenta em cerca de 30 km o trajeto, enquanto por essa estrada são apenas 3 km até a MG 040. Entretanto a Vale mantém a estrada fechada junto com a Defesa Civil”, reforça Felipe.
A Vale foi questionada sobre a denúncia, mas não respondeu.
Estrada Campo Costa pode ser uma saída
Na manifestação desta sexta-feira, uma das pautas da comunidade foi a liberação das outras vias de Macacos, principalmente a estrada Campo do Costa. De acordo com a moradora Fernanda, a via é uma rota de fuga segura, mas passa dentro do território da mineradora. A reivindicação é que a empresa faça a pavimentação, sinalização e iluminação da estrada e a torne de livre acesso.
Outras demandas têm relação com a solicitação de que a Vale forneça informações, estudos e documentos acerca das condições das barragens, do muro e do cenário em geral em Macacos, e o urgente restabelecimento do abastecimento de água no distrito.
Captação de água de Fechos
A adutora de captação de água de Fechos, da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), rompeu na segunda-feira (11), causando a paralisação do abastecimento à comunidade. Questionada, a Copasa informou que o abastecimento está sendo feito por meio de caminhões-pipa, que são limitados devido às condições das estradas no local, muito danificadas pelas chuvas e enchentes.
“Técnicos da companhia trabalham ininterruptamente para que a retomada da operação do sistema ocorra o mais breve possível”, afirmou a estatal.
A água que chega ao distrito é insuficiente e moradores têm feito rateamento para a compra de caminhões-pipa, de forma particular.
Alagamento em consequência do muro da Vale
A comunidade de Macacos passa por uma série de situações absurdas por conta da presença de barragens na região. Cercado por sete barragens, o distrito está sem rota de fuga segura em caso de rompimentos. A barragem B3/B4 da Mina Mar Azul, da Vale, desde 2019 está em nível 3 de insegurança, o mais alto possível.
O isolamento acontece devido a um muro, construído pela Vale no final de 2020, e que está causando a obstrução de pontes e estradas. A parede gigantesca é mais alta que um prédio de dez andares e foi construída no curso do Ribeirão Macacos para conter possíveis rejeitos da barragem B3/B4. Os moradores também estão sem atendimento médico, transporte público suspenso e chegaram a ficar 30 horas sem energia elétrica.
Edição: Elis Almeida