Permitam me apresentar: sou Eunice Ferreira Godinho, atingida pelo crime da Vale em Brumadinho, que fez com que a lama chegasse até mim e a todos na comunidade de Cachoeira do Choro, em Curvelo, Minas Gerais.
Chegou trazendo a lama, lama essa que não pediu licença para entrar e ficar em nossas vidas. Destruindo, assim, sonhos e projetos realizados e em construção. Tirando de nós a alegria de ter encontrado o cantinho tão sonhado, de ter se encantado com um rio tão imponente, que foi ferido como todos nós e que ainda sangra todos os dias sem que ninguém o cuide e nem a nós.
São três anos de dor, gemidos e lágrimas, porque os homens grandes (arrogantes e soberbos), não conseguem, ou não querem, se curvar para ouvir o gemido dos pequenos homens, (humildes).
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Homens estes que apenas querem que a justiça aconteça de forma integral e íntegra, porque o que temos até aqui é uma justiça falha e covarde, que faz desse crime uma ferramenta para lucrar com a dor e sofrimento de quem está tentando limpar a lama de suas vidas.
Mas assim como o rio, com toda sua dor, ainda corre. Também lutaremos e não mais sozinhos, teremos sim a força daqueles que não tiveram lama nos quintais de suas vidas. Mas que se unirão a nós, nos ajudando a limpar os nossos quintais. Me refiro a você! Deixo meu abraço limpo, sem lama.
Eunice Ferreira Godinho é moradora de Cachoeira do Choro, em Curvelo (MG).
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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal
Edição: Larissa Costa