“Uma mulher alegre, cuidadosa com suas coisas. Mãe, avó, guerreira, eterna companheira. Uma mulher que acompanhou inúmeras vezes a luta pelo direito à moradia”. É assim que Charlene Cristiane Egídio descreve Gislene. Na madrugada de quinta-feira (10), a mulher morreu devido a um incêndio em sua casa.
Segundo os moradores, a razão do incêndio foi uma rede elétrica improvisada. Gislene era moradora da Ocupação Rosa Leão, na região da Izidora, em Belo Horizonte.
Charlene, que é coordenadora da ocupação, diz que a comunidade aguarda os resultados da perícia. Porém, acreditam que a morte está relacionada à irresponsabilidade e negligência do Estado.
“Negam o direito à luz regularizada que, há 9 anos, buscamos com luta. Ninguém merece morrer carbonizada, ninguém merece viver sem uma luz segura, que traga cidadania e segurança para a moradia”, lamentou ao Brasil de Fato MG.
A coordenadora da ocupação contou ainda que o acesso à energia elétrica na comunidade é extremamente precário, com postes improvisados. "É importante frisar que queremos pagar [as contas de] luz e água. Mas, o Estado não quer ligar. Falta vontade política. Corre o risco de ter mais óbito na comunidade por causa da precariedade”, explicou.
:: Leia mais notícias do Brasil de Fato MG. Clique aqui ::
Os moradores relatam que na semana anterior um cachorro morreu devido a um fio elétrico arrebentado. Para eles, o fato poderia ter acontecido com alguma criança da comunidade.
Problema já havia sido denunciado
As ocupações da região da Izidora são consolidadas há nove anos. Porém, os moradores acreditam que existe uma briga entre o governo estadual e a prefeitura, o que impede que as famílias tenham acesso aos serviços essenciais.
No dia 15 de outubro de 2021, foi realizada uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), convocada pela deputada estadual Andreia de Jesus (Psol), em parceria com a vereadora de BH Bella Gonçalves (Psol).
Na ocasião, moradores das comunidades Helena Greco, Rosa Leão, Esperança e Vitória denunciaram as dificuldades. Durante a audiência, a deputada e a vereadora também cobraram a Cemig e a Copasa sobre o acesso da comunidade à água e à energia elétrica.
Segundo Bella Gonçalves, a resposta da Cemig foi de que abriria um edital de contratação para fazer a ligação da energia. Porém, o processo ainda não ocorreu. Já a Copasa, segundo a vereadora, não deu nenhuma previsão para instalação de água nas ocupações.
:: Receba notícias de Minas Gerais no seu Whatsapp. Clique aqui ::
Para Bella, a morte de Gislene “está vinculada à demora do poder público de garantir direitos básicos e fundamentais nas ocupações urbanas, como água, luz, saneamento básico e asfaltamento", declarou ao Brasil de Fato MG.
Moradores protestam
Na manhã da quinta-feira (10), os moradores da comunidade fizeram um protesto
cobrando que as autoridades se responsabilizem pela tragédia e resolvam o problema da ausência de serviços básicos.
“Fizemos o ato para pedir justiça, respeito, dignidade, que se ligue a luz e a água imediatamente. Estavam presentes moradores da comunidade, a Comissão Pastoral da Terra, a vereadora Bela, a deputada Andreia de Jesus e representantes das três ocupações da Izidora”, contou Charlene.
Outro lado
Em nota, ao Brasil de Fato MG, a Cemig afirma que colaborou com o Corpo de Bombeiros na ocorrência do incêndio e que “a equipe foi deslocada prontamente, chegando ao local em poucos minutos”. Relata ainda que “por questões de segurança, foi feito o desligamento e a desconexão de parte dos cabos irregulares conectados à rede de distribuição da empresa próximos ao local, para evitar outros acidentes” e que retirou cabos irregulares que impediam a passagem da viatura dos bombeiros.
A empresa também afirmou que “as causas do incêndio e outras informações sobre a ocorrência são de responsabilidades das autoridades competentes”.
Em relação à regularização, a Cemig informou que já está previsto o fornecimento de energia elétrica na comunidade, em ruas autorizadas pela Prefeitura de BH, via Programa Energia Legal da Cemig. Na primeira etapa, segundo a nota, 3 mil famílias do local serão beneficiadas pelo programa.
Edição: Larissa Costa