Recentes tragédias atribuídas ao clima têm trazido consequências na vida da maioria da população mundial. Em entrevista recente à Agência Pública, o climatologista peruano José Marengo afirmou que o clima do futuro “não será tanto um clima quente, seco, frio ou chuvoso, mas um clima extremo”. E que é preciso começar a pensar alternativas para salvar as populações mais vulneráveis.
Essa é também a preocupação de um conceito chamado “Ecologia Integral”. Nele, a defesa do meio ambiente só é efetiva se for entendida como a defesa de todos os seres vivos e de seu bem-estar. A Ecologia Integral entende, por exemplo, que não adianta ter matas e rios preservados enquanto existe uma extrema desigualdade, com parte da população passando por miséria, fome e doenças evitáveis.
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“Tudo está interligado numa casa que é comum”, comenta Dom Vicente, Bispo Auxilar da Arquidiocese de Belo Horizonte, se referindo ao planeta Terra. “Apesar de ser um ator que também cria, o ser humano não pode se esquecer que ele não ‘está’ na natureza, ele ‘é parte’ da natureza. Não se consegue cortar os processos isolando a vida humana do resto”, explica.
Laudato Si: a mensagem de Papa Francisco
O líder máximo da Igreja Católica tem sido um dos principais mensageiros da Ecologia Integral. Em 2015, sua primeira carta encíclica – que é um documento para orientar as lideranças católicas e fiéis ao redor do mundo – foi o “Laudato Si” (em português “Louvado sejas”), que tem como mensagem central a Ecologia Integral.
“Que tipo de mundo queremos deixar a quem vai suceder-nos, às crianças que estão a crescer?”, questiona Papa Francisco. A resposta, segundo ele, está na proteção ao meio ambiente, na ajuda aos países menos desenvolvidos, em reformular hábitos e comportamentos, entre uma série de ações em busca do bem comum para seres humanos e todo o planeta, que sempre são interligados.
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O termo não foi cunhado pelo papa, mas foi Francisco quem o divulgou de forma global e o incorporou com o cuidado com a Casa Comum, conta a pesquisadora Janise Bruno Dias, doutora em Meio Ambiente e Desenvolvimento e professora da Universidade Federal de Minas Gerais.
“Como pesquisadora acho que é uma utopia, diante da realidade que vivemos. Mas penso que não por isso, não devemos exercitá-la no nosso dia a dia. Rever posições e atitudes sobre a nossa postura em relação ao ambiente e a nossos irmãos, em nossa comunidade e além”, argumenta.
Em Minas Gerais, mineração é um dos principais obstáculos a uma ecologia integral
Especificamente nas terras de Minas Gerais, a Ecologia Integral encontra um enorme obstáculo: a mineração. Uma atividade predatória que “leva tudo”, diz Janise, “o minério, as águas, a biodiversidade e a vida das pessoas. E não deixa nada ou quase nada. Quando deixa, são migalhas e feridas”, lamenta.
O impacto é gigantesco. Somente no ano de 2020, mais de 750 mil cidadãos mineiros tiveram seus direitos violados pela atividade minerária, segundo dados do último Mapa dos Conflitos da Mineração no Brasil, produzido pelo Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração.
A comparação com uma possível vantagem – a geração de empregos – é bem desequilibrada. Em evento no dia 7 de fevereiro na Cidade Administrativa, com a presença do governador Romeu Zema (Novo), um dos diretores do Instituto Brasileiro de Mineração relatou que a mineração gera, hoje, 71 mil empregos em Minas Gerais. Menos de 10% do número de pessoas que teve direitos violados.
Como lutar pela vida
Frei Valter Vieira é franciscano, membro da Ordem dos Frades Menores, em Minas Gerais, e atua em em territórios atingidos pela mineração. “A expansão desse modelo nos deixa em um cenário sombrio, de morte e de sofrimento”, relata. “A mineração destrói laços ecológicos, instala-se como um campo de guerra nos territórios e devasta afetos e a história das comunidades”.
Para o frei, trabalhar nesses territórios tendo em mente a Ecologia Integral é um grito de esperança. “Vejo que a luta no sentido do cuidado da Casa Comum encontra muitos adeptos, que fortalecem a construção de resistência, de respeito à vida e aos territórios. No entanto, os poderosos continuam achando que terão o poder imortal”, indigna-se o frei. “Mas, em breve perecerão”, completa.
Edição: Larissa Costa