Missas, vigília, celebrações, live internacional, coletiva de imprensa e ato com os familiares das vítimas do rompimento da barragem da Vale, em Córrego do Feijão. Essas foram algumas das atividades que marcaram a III Romaria pela Ecologia Integral a Brumadinho, que aconteceu em 25 de janeiro deste ano.
Para Andresa Rodrigues, o momento foi de recarregar as energias para seguir em frente. “Todos os dias são difíceis, de muita dor e tristeza. Mas ser acolhida na romaria, me encoraja a seguir a luta. A seguir honrando meu filho e as outras 271 joias”, declarou ao Brasil de Fato MG.
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Integrante da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (Avabrum), Andresa é mãe de Bruno Rocha Rodrigues, uma das 272 vítimas fatais do crime.
História
Concebidas a partir do conceito da Ecologia Integral, com base na encíclica “Laudato Si”, do Papa Francisco, desde a sua primeira edição, em 2020, as romarias em Brumadinho são organizadas pela Arquidiocese de Belo Horizonte, por meio da Região Episcopal Nossa Senhora do Rosário (Renser). Além do acolhimento, o evento é um momento de reafirmar o compromisso com a fé e com a vida, de denunciar e propor caminhos alternativos à mineração.
“A Romaria nasce marcada pelo compromisso de fazer memória, de denunciar as forças de morte do modelo econômico predatório da mineração, e de anunciar a esperança que nasce alicerçada na fé, na resistência”, explica Leila Regina da Silva, participante das Comunidades Eclesiais de Base (Cebs).
Para os atingidos da Bacia do Paraopeba, as romarias são também um momento de luta por justiça e reparação integral. Além das vítimas fatais, o rompimento da barragem deixou casas soterradas, destruiu plantações, impactou a fauna e a flora da região e contaminou a água.
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Andresa acredita que a justiça e a reparação só serão conquistadas com união, outro imperativo das romarias em Brumadinho. “Sozinhos somos gravetos fáceis de serem quebrados. Juntos somos feixe, somos resistentes. A romaria reúne pessoas com propósito de cuidar da vida, trazer bem-estar às pessoas e ao meio ambiente. Nos leva a refletir sobre o cuidado com a Casa Comum e a importância de criarmos alternativas de emprego que nos liberte da minerodependência ”, ressalta.
O que é uma romaria?
Com origem no termo ‘romeiro’, que designa pessoas que caminhavam em peregrinação à Roma, na Itália, a romaria é uma peregrinação a algum lugar religioso. “É também uma caminhada popular que se faz para defender uma causa comum”, explica padre Eduardo Pedro Lopes, Vigário Episcopal da Renser, ao Brasil de Fato MG.
O padre conta ainda que essa caminhada promove o diálogo entre pessoas de diferentes credos, e com movimentos populares que lutam por um mundo mais justo, fraterno e solidário. Quando se trata de uma causa comum, a romaria se torna ecumênica e, como relata padre Eduardo, busca “anunciar que é possível fazermos diferente, a fim de que as pessoas possam usufruir de uma vida mais digna”.
As romarias são um momento de construção da “fé dialogada”. Leila explica que essa fé é necessariamente uma fé conectada com a vida do povo. “Assumir essa Fé é exercer a presença evangélica nas diferentes lutas por justiça e se colocar de forma profética contra as forças de opressão e poderes violadores”, enfatiza.
Pelas águas e pela Terra
Em Minas Gerais, aconteceu em novembro de 2019, a 22ª Romaria das Águas e da Terra, na cidade de Romaria, na região do Alto Paranaíba. Com o lema “Das águas sujas, em Romaria, na luta pela terra e pelas águas, fontes de vida”, o encontro teve momentos de missões em comunidades das cidades de Uberlândia, Monte Carmelo, Indianópolis e Romaria.
Os romeiros também afirmaram seu compromisso com a construção de uma sociedade do Bem Viver e Conviver. A carta final do encontro denuncia o agronegócio e seus danos socioambientais, por meio da implantação de monoculturas, da exploração de minérios e a da pecuária extensiva.
Edição: Larissa Costa