“Eu senti um pouco de medo da agulha. Mas eu tomei mesmo assim porque eu acho que a vacina é importante para nos proteger de uma doença perigosa, que às vezes até mata pessoas”. Esse é o relato de Helena Amaral Macedo, de 7 anos. A menina tomou a primeira dose da vacina contra a covid-19 no dia 21 de janeiro.
Já Antonio Buono Ribeiro, também de 7 anos, ao ser questionado pelo Brasil de Fato MG se a vacina é importante, respondeu de forma enfática: “muito, porque você fica mais imunizado e você pode ter contato com outras pessoas, se elas também estiverem com a vacina”.
Dois anos mais novo, Hugo Zampier Montemor conta que se assustou um pouco com a picadinha, mas que valeu a pena. “Eu chorei um pouco, mas está tudo bem”, disse o menino em tom de felicidade.
Mesmo com a pouca idade, Helena, Antonio e Hugo já compreenderam a importância de se imunizarem contra a covid-19. Porém, muitas crianças entre 5 e 11 anos ainda não se vacinaram. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES) de Minas Gerais, pouco mais de 20% do público já foi vacinado no estado. O dado foi apresentado por Marcela Ferraz, representante do órgão, durante audiência pública realizada na Assembleia Legislativa no dia 10 de fevereiro.
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O endocrinologista pediátrico Cristiano Túlio Maciel contou que, nos últimos dias, essa taxa subiu um pouco. Porém, segundo o médico, a situação continua é preocupante. “Não é nem a metade, enquanto a meta seria de no mínimo 90%”, enfatiza. Na terça (15), o governo estadual divulgou que, após um mês do início da imunização, 30% do público infantil recebeu a primeira dose da vacina contra a doença. Em todo o estado, aproximadamente 1,8 milhão de meninos e meninas dessa faixa etária estão aptos a receberem a vacina.
Desconfiança, medos de efeitos colaterais, relativização sobre a gravidade da pandemia e a crença na imunidade natural são alguns dos fatores que têm dificultado o avanço da vacinação das crianças. Para especialistas, esses fatores, na verdade, são mitos que fazem parte de uma intensa campanha de desinformação.
Sobre as notícias falsas e conteúdos falaciosos, o Brasil de Fato MG apresenta quatro mitos em torno da vacinação infantil. Confira:
Mito 1: criança não pega covid-19
Desde o início da pandemia do novo coronavírus, cerca de 1.500 crianças brasileiras, de 0 a 11 anos, morreram devido à covid-19, segundo informações da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19 (CTAI-Covid).
Cristiano, trabalha no Hospital Infantil João Paulo II, localizado em Belo Horizonte. No final do mês de janeiro, o hospital atingiu a ocupação de 100% de seus leitos, devido ao alto número de crianças que apresentaram sintomas de síndromes respiratórias.
Para ele, a vacinação reduziria a chance de complicações, caso as crianças sejam contaminadas pelo vírus. “Grande parte dessas 1500 crianças, que foram a óbito, e mais de 5 mil que ficaram com sequelas, principalmente cardíacas, respiratórias e neurológicas, são casos que poderiam ter sido evitados”, declarou.
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O médico comenta ainda que, com as pessoas mais velhas já vacinadas, é natural que o vírus atinja mais as crianças e as utilizem como reservatório. “O vírus está aí no ambiente circulando. Ele tenta se adaptar para viver no organismo. Ele quer infectar os seres humanos para sobreviver, para se replicar”, explica.
Mito 2: a vacina não é segura
Devido a rapidez com que foi desenvolvida, muitas pessoas acreditam que a vacina ainda é experimental, mesmo tendo sido aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Para a aprovação, a Anvisa considerou estudos realizados por especialistas de todo mundo que comprovaram a segurança, a capacidade de imunização e a eficácia da vacina para crianças de 5 a 11 anos de idade.
Órgãos de controle europeus, estadunidense e australianos também comprovaram a segurança e eficácia da vacina. Para Cristiano, a rapidez com que foi desenvolvida, se deu por causa dos esforços da ciência e do aumento de financiamento. “Foi uma vacina desenvolvida com agilidade sim. Mas não foi a toque de caixa, pulando etapas de segurança. Foram feitos todos os testes e pesquisas”, afirmou.
Mito 3: a vacina causa mais efeitos colaterais
Um relatório, divulgado em 31 de dezembro de 2021 pelo Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, demonstrou que em uma amostra de 8,7 milhões de doses aplicadas em crianças da faixa etária, foram notificados 4.249 casos adversos. Os dados demonstram que, do total de crianças vacinadas, apenas 0,049% apresentaram reações fora do comum. Normalmente, as crianças vacinadas sentem dor no braço ou cansaço.
Cristiano ressalta que vacinas e medicamentos, de modo geral, podem apresentar efeitos colaterais. Mas que, em sua maioria, são efeitos leves, como dor de cabeça ou febre baixa. “A taxa de complicações nas vacinas contra a covid-19 são as mesmas ou até mais baixas do que de outras vacinas”, relata.
Mito 4: crianças morrem após tomarem a vacina
Outra informação que vem circulando, principalmente na internet, é a de que crianças têm vindo a óbito após serem vacinadas contra a covid-19. Porém, na quarta-feira (16), o diretor-presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, afirmou à Agência Senado que não existe comprovação de nenhuma morte de criança, em decorrência da vacinação contra a covid-19.
“Não tem nenhum óbito registrado em nenhum lugar do mundo na faixa etária. E os eventos adversos, que têm sido pontuados por divulgadores de fake news, como a miocardite, são muito mais frequentes na covid -19 que no uso de vacinas”, informou.
Fake news se combate com informação
Na audiência pública, a também representante da secretaria de Saúde de Minas Janaína Passos de Paula afirmou que a disseminação de informações falsas tem prejudicado a campanha de vacinação. Para ela, uma das consequências da falta de informação correta são pais amedrontados que estão deixando de levar seus filhos para se vacinarem.
Apesar do Programa Nacional de Imunizações (PNI) brasileiro ser referência mundial – com amplos índices de vacinação contra meningite, pneumonia, sarampo, caxumba, rubéola, difteria, dentre outras – no último período, a taxa de vacinação infantil no Brasil tem caído gradualmente. Para o Cristiano, esse cenário faz parte de um fenômeno mundial “que não poupou nem o Brasil, que tem esse programa tão robusto, que fez o brasileiro gostar de se vacinar”.
“A cultura antivacina vem crescendo no mundo todo ligada ao negacionismo, principalmente político. As pessoas negam a ciência e acreditam mais em correntes de WhatsApp e na opinião do vizinho”, avalia o médico.
Para ele, se o problema é esse – a desinformação –, é necessário combatê-lo com informação e incentivo. Campanhas em escolas e unidades básicas de saúde e incentivos financeiros para famílias carentes são algumas das medidas sugeridas pelo médico.
Prefeita de Contagem é atacada por incentivar vacinação infantil
Durante a última semana, a prefeita da cidade de Contagem, na Região Metropolitana de BH, Marília Campos (PT), recebeu mensagens de intimidação nas redes sociais.
O motivo dos ataques são as iniciativas promovidas pela prefeitura para incentivar a vacinação infantil no município. Uma das ações é a campanha “Liga da Vacina”, que utiliza super-heróis para atrair o público infantil.
Segundo a prefeitura, cerca de 30.451 crianças já foram vacinadas contra a covid-19 no município.
Edição: Larissa Costa