A resenha não para um segundo, mermão! Você fica sabendo quem pegou e não pegou a covid
Padaria da quebrada lotada pela manhã com cafezinho quente na hora e aquele pão com queijo ou manteiga na chapa. Um entra e sai frenético: dona de casa, povo do corre, polícia, pastor, cara do jogo do bicho, povo do santo, povo das motocas, dona do Yakult e muito bate-papo sobre os preços dos alimentos, preço da gasolina, do gás, futebol e BBB. A resenha não para um segundo, mermão! Você fica sabendo quem pegou e não pegou a covid.
De repente, chega um irmão, morador em situação de rua. Para na frente da porta da padaria e começa a trocar uma ideia com a gente. Ele fala:
- Aí, chefia, da hora?
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- Sim, meu velho!
- Dá para pagar um café e um pão quentinho na chapa, brou?
- Dá, sim! Chega mais aí, meu velho. Cai aqui pra dentro.
Ele falou que já foi surfista e trabalhou numa grande empresa. Sua roupa e estilo denunciavam que realmente tinha sido um cara da praia.
Tudo correu bem e o moço tomou seu café e saiu na sua fé e sua caminhada.
Mas a surpresa estava por vir. Uma moça que trabalhava na padaria, de uns 20 anos, moradora da quebrada e muito simpática, que passava pano no chão, vira e fala:
- Esse povo pobre só vem atrapalhar a correria da padaria. Não gosto desse povo, não!
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- Oxi, garota! Então você não gosta de ninguém aqui e nem de você, né?
- Tô falando daquela pessoa que saiu daqui agora. Toda suja e falando palavrão.
- Você sabia que ele é um de nós? Que está numa situação muito ruim agora? Que pode acontecer com a gente?
- Ele é preguiçoso e não tem fé em Deus. Eu tenho um Deus e muita fé. Rezo todos os dias.
Paguei minha conta e fui embora.
Rubinho Giaquinto é covereador da Coletiva em Belo Horizonte
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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal
Edição: Larissa Costa