Minas Gerais

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Já está quase: 38 semanas

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Se fosse para eu escolher uma dica, seria: elogie a gestante próxima de você. Mais de uma vez. Mais de dez vezes. Até ela acreditar - Foto: Freepik
Talvez o misto de fragilidade e poder nos ensine sobre a eterna busca pela aceitação do possível

Os pés incham a ponto de nenhum sapato caber mais. O ar também não passa mais tão bem pelo nariz, e olha que ele cresceu bastante. O centro de equilíbrio e a força da mão mudaram e, com isso, já derramei azeite (uma maravilha para limpar o chão, vocês podem imaginar), potes diversos e sabonetes mais ou menos uma centena de vezes.

O que mais? Ah sim, as gengivas sangram, toda comida dá azia, o grau dos óculos mudou e até a audição mudou. Em um mundo pré-pandemia (existiu?), imagino que uma escada ou qualquer morrinho já eram o Everest para uma mulher grávida. Fazer isso de máscara é uma coisa assim: olímpica. Passar mais de duas horas sem ir ao banheiro parece uma ficção malfeita. E claro que isso inclui as noites.

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Esses são alguns pequenos exemplos do que acontece comigo, mas sei que com cada mulher é de um jeito diferente. Uns melhores, outros infinitamente mais desafiadores e outros tantos que nem imagino que poderiam existir. Então, uma pessoa que está com outra dentro de si há 38 semanas, como é meu caso neste momento, está com algumas dificuldades de ordem motora, física, psíquica e de outras ordens que existem por aí.

Alguns casos podem parecer engraçados, mas todos os dias esquecer palavras-chave do trabalho acaba cansando. Eu já contei que sou jornalista, mas já escrevi cada coisa errada que melhor nem comentar (aquele momento que a gente torce para a chefe não estar lendo). Eu confundi nomes importantes, troquei lojas, saí de casa e não levei dinheiro, respondi o que não me foi perguntado e cometi outras pequenas e grandes gafes que não faziam parte da minha rotina.

Até aí, tudo bem, normal, teoricamente todo mundo tem paciência. Teoricamente. Mas o que seria legal que as pessoas soubessem é que não é tão mágico assim, e uma ajuda mais atenta cairia bem.

Algumas sugestões:

Lugar para sentar nas lojas e estabelecimentos comerciais.

As pessoas respeitarem de fato as filas preferenciais.

Conhecidos e desconhecidos podem perguntar se aquela gestante precisa de algo ou até tentar antecipar esse algo.

Intervalos entre as coisas farão bem a todos.

Uma cerejinha de bolo para quem tem alguém em casa, companheiro ou companheira, é como a pessoa pode fazer coisas invisíveis para ajudar no rojão. Mas se fosse para eu escolher uma dica, seria: elogie a gestante próxima de você. Mais de uma vez. Mais de dez vezes. Até ela acreditar.

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Eu vou tentando de cá fazer uma coisa de cada vez. E tentando achar graça quando dá errado, ou quando o universo nitidamente me lembra que não controlo absolutamente nada. Talvez isso valha para sempre, talvez esse misto tão intenso de fragilidade e poder seja um dos processos mais simbólicos para nos ensinar (ou para me ensinar) que é assim mesmo, uma eterna busca pelo agora e pela aceitação do possível.

Nos vemos daqui a três semanas, com outras questões tão sem ou com sentido como essas. Manda suas ideias! Pode ser para [email protected].

Um abraço!

Joana Tavares é jornalista.

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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

Edição: Larissa Costa