Minas Gerais

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Crônica | 174

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De repente, uma senhora com uma bolsa preta e brilhante dá um grito no meio do busão: “gente, hoje é meu aniversário e quero comemorar aqui dentro do ônibus com vocês” - Foto: EBC
Ao fundo do busão, um cara entra para assaltar. Começa uma confusão sobre o Big Brother

A caminho da minha quebrada, entro num ônibus lotado no centro da cidade, muito cansado. Na realidade, doido para assistir ao jogo do brasileirão e tomar um banho. Hoje o dia foi pesado. Gostaria de estar alegre, de comemorar alguma coisa boa. Mas só recebi mensagens no zap de notícias tristes. Eu pretendia apenas chegar em casa. Só isso.

Ao fundo do busão, um cara entra para assaltar. Começa uma confusão sobre o Big Brother. Dois casais trocam socos contra o assaltante. Ele é imobilizado. O cara é xingado por todos nós. Assaltar busão de trabalhador na quebrada é ser muito vacilão, mermão! Eu só queria chegar em casa. Estava com algumas compras na mão: pão, salsicha, um refrigerante mais barato e molho de tomate. Era para fazer um cachorro-quente na hora do jogo. Só que o busão estava parado quase uma hora. O ônibus estava lotado e o povo começava a reclamar que queria chegar em casa, depois de um dia exaustivo de trabalho.

De repente, uma senhora com uma bolsa preta e brilhante dá um grito no meio do busão: “gente, hoje é meu aniversário e quero comemorar aqui dentro do ônibus com vocês”.

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No primeiro momento, o silêncio foi sepulcral. Um homem perto da saída traseira também gritou: “então são dois. Hoje também é o meu”.

Um cara que estava com um rádio bem grande coloca uma música do Odair José.

Só dentro de um busão da quebrada o clima muda de uma hora para outra. Eu tirei meu refrigerante da sacola e gritei: “está aqui o refri do aniversário”.

O outro do meio do busão também gritou: “tem um bolo aqui”.

Mais pessoas contribuíram para o aniversário improvisado depois de um assalto frustrado e uma confusão sobre o Big Brother. Eu só queria chegar em casa, mas naquela altura dos acontecimentos, nem sei mais o que queria.

De repente, tinha uma festa completa. Até vela de aniversário apareceu.

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O parabéns foi coletivo. O primeiro pedaço de bolo foi para o motorista, que pacientemente ficou de boa vendo toda a movimentação e a confusão.

Cheguei em casa no finalzinho do jogo. Que por sinal estava ruim pra caramba. Era uma “pelada” oficial do campeonato brasileiro. Um zero a zero digno de um filme do Danilo Gentilli.  

Eu era puro sorriso no chuveiro.

Rubinho Giaquinto é covereador da Coletiva em Belo Horizonte.

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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

Edição: Larissa Costa