A greve dos trabalhadores e trabalhadoras do metrô de Belo Horizonte começou na segunda-feira (21). Os trens estão funcionando de 10h às 17h, em horário decidido pelos funcionários em assembleia, conforme informa o Sindicato dos Metroviários de Minas Gerais (Sindimetro).
A escala vai contra o que requereu a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), empresa estatal proprietária do metrô, à Justiça. O Tribunal Regional do Trabalho determinou que a jornada do metrô fosse de 5:30 às 10h e de 16:30 às 20h. O que geraria menos perdas à própria empresa, mas vai na contramão do objetivo de uma greve.
A paralisação dos trens continua nesta terça-feira (22) e segue por tempo indeterminado.
Seis pontos sobre a greve do metrô de BH
O Brasil de Fato MG conversou com Alda Lúcia Fernandes dos Santos, diretora de finanças e administração do Sindimetro, que levantou as explicações mais relevantes sobre a greve e que não estão sendo comentadas pela mídia comercial. Por exemplo, como o aumento extraordinário da passagem do metrô e a greve dos metroviários têm o mesmo “inimigo” comum.
“Entendemos o quanto isso é desgastante para o usuário, mas pedimos a compreensão e que saiba que a paralisação é contra a piora do transporte”, argumenta a sindicalista.
1. A greve é contra a privatização
“As pessoas acham que nossa greve é por salário”, diz Alda Lúcia. O metrô de Belo Horizonte está em processo avançado de privatização. O governo federal criou, em novembro de 2021, a Superintendência de Trens Urbanos de Belo Horizonte (STUBH), que deixou de integrar a CBTU e se transformou em um "Veículo de Desestatização MG Investimentos S.A. – VDMG”, segundo o governo federal.
A greve é contra a privatização do metrô de BH e contra a divisão da empresa.
2. Ruim para o funcionário e pior para a população
A população de Belo Horizonte viu a passagem do metrô de Belo Horizonte aumentar de R$ 1,80 para R$ 4,50 em um período de dois anos – março de 2019 a março de 2021. Os aumentos foram uma pequena amostra do que a privatização do metrô pode trazer ao transporte da cidade, já que foi justificado como uma forma de fazer a empresa ser “mais lucrativa”.
“A privatização traz tarifas mais altas e a empresa não investe no metrô. Isso acontece, por exemplo, em São Paulo nas linhas privatizadas. Se a empresa não atinge um ‘tal’ valor, o governo tem que completar esse valor. E quem paga gratuidade é o governo do estado”, alerta Alda.
3. Mesmo tendo feito concurso, trabalhadores não sabem se serão demitidos
Com a privatização, os 1.600 funcionários do metrô de Belo Horizonte não têm garantia sobre seus empregos. O sindicato informa que, há mais de um ano, busca negociação e respostas do governo federal, mas não tem conseguido.
4. Governo federal tinha feito acordo, mas se contradisse
Segundo o Sindimetro, a categoria já havia negociado um acordo coletivo com o governo federal, que admitia a transferência dos funcionários do metrô de BH para outras unidades da CBTU. De forma que eles não perderiam seus empregos. Porém, com o processo de privatização já em andamento, o governo federal voltou atrás e no final de 2021 publicou a Resolução CPPI nº 206, proibindo essa transferência.
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Mas isso não impediu que, uma semana depois, 30 funcionários de BH recebessem esse “benefício” e fossem transferidos de unidade, sozinhos, gerando um descontentamento de todo o restante da categoria.
5. Com leilão em julho, trabalhadores têm pouco tempo
A expectativa do governo federal é que a venda do metrô de BH seja realizada em julho deste ano. A empresa, criada exclusivamente para a venda do metrô de BH, é gerida pelo governo estadual e será vendida para uma empresa privada que será dona do metrô de BH por pelo menos 30 anos.
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Com a Resolução 206, os trabalhadores ainda não possuem garantia de que terão seus empregos mantidos.
6. As portas estão fechadas
“O governo não quer negociar”, indigna-se Alda. “A situação é muito grave. Estamos percorrendo o Senado, a Câmara dos Deputados, que têm nos ajudado muito. Mas, infelizmente, o Ministério da Economia e o Ministério do Desenvolvimento Regional acham que ainda não é o momento de conversar com os trabalhadores e trabalhadoras. Quando será a hora?”, questiona.
A diretora ainda afirma que o sindicato já tentou audiências e intervenções do Tribunal de Contas do Estado, do Tribunal de Contas da União, do Tribunal Regional do Trabalho, da Advocacia Geral da União, mas não conseguiu sucesso. Até o momento, segundo a sindicalista, nenhum órgão conseguiu fazer com que o governo federal cumpra o acordo que ele mesmo fez com a categoria. “Os empregados estão à deriva”, completa.
Edição: Larissa Costa