O sonho mais incrível foi passar no Enem e entrar em matemática na UFMG
Encontrei meu amigo na Praça Sete, num sol de rachar mamona. O calor estava mais insuportável que o governo do Bolsonaro. Era quase um clima do deserto do Saara, bem no Centro da cidade de Belo Horizonte. O corre e corre nunca para na cidade.
Ele estava feliz pra caramba. Sorrisão no rosto. Carregando vários livros.
- E aí, meu irmão, que felicidade é essa?
- Uai! Realizei três sonhos de uma vez só.
- Caramba. Me conta aí.
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- Neste ano completei 60 anos e não tive covid, acredita? Trabalhei 30 anos como porteiro de um condomínio de grã-finos e consegui juntar uma grana. Agora é correr para o abraço.
Nunca tinha entrado no Palácio das Artes. Comprei até roupas novas e um tênis daora.
- Sério?
- Sério. Também nunca tinha assistido um show dos Paralamas ao vivo. Fez parte da minha adolescência e juventude. Só agora pude realizar esse sonho. O sonho mais incrível foi passar no Enem e entrar em matemática na UFMG. Sempre labutei a vida toda. Vim da roça e cuidei de toda a minha família.
- Estou super, mega feliz por você!
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- Também queria agradecê-lo. Vc sempre me ajudou, irmão! Os livros. As resenhas. A paciência de explicar como funciona a exploração deste sistema contra os mais pobres. Você salvou minha caminhada. Sem contar o Galo campeão do Brasileiro.
- Salve! Sucesso aí na caminhada.
- Satisfação total, mermão!
- Tamo junto e mixado!
Ele saiu cantarolando:
“Rodas em sol, trovas em dó
Uma brasileira, ô
Uma forma inteira, ô
You, you, you
Nada demais
Nada através
Uma légua e meia, ô
Uma brasa incendeia, ô
You, you, you
Deixa o sal no mar
Deixe tocar aquela canção”
Rubinho Giaquinto é covereador da Coletiva em Belo Horizonte.
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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal
Edição: Larissa Costa