Vender para arrecadar investimento. É geralmente essa a grande justificativa dos governos para explicar a necessidade da privatização de empresas. Em Belo Horizonte, a população espera melhorias no metrô há décadas, principalmente a ampliação das linhas, fato que está sendo usado pelo governo federal para estimular a desestatização.
No entanto, para o especialista Rafael Calabria, coordenador de mobilidade urbana do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), a venda não vai trazer investimentos. “A privatização é outra forma de gestão. Ao invés de ser pública vai ser privada, mas os investimentos têm que vir da mesma forma e, normalmente, continuam vindo do poder público”, aponta.
O que falta, na opinião de Rafael, é um plano de investimento público a partir de uma visão dos gestores e governos sobre como é importante melhorar a estrutura e o funcionamento do metrô.
Usuários precisam e merecem um metrô de qualidade
Os últimos anúncios sobre investimentos comprovam a avaliação de Rafael. Em setembro de 2021, o governo federal sancionou um aporte de R$ 2,8 bilhões para melhorias no metrô de Belo Horizonte, com o acréscimo de R$ 428 milhões do governo de Minas Gerais.
Em contrapartida, a empresa que vencer a privatização deverá entrar com R$ 400 milhões, apenas 11% do investimento.
Romeu Machado, metroviário há mais de 20 anos e atual presidente do Sindicato dos Empregados em Transportes Metroviários e Conexos de Minas Gerais (Sindimetro), destaca que, apesar de parecer um valor robusto, o recurso ainda é insuficiente para a ampliação do metrô.
:: Leia mais notícias do Brasil de Fato MG. Clique aqui ::
“A verba hoje destinada pelo governo, cerca de R$ 3,2 bilhões, não dá para fazer a ampliação e a modernização. E não vai haver aporte suficiente da iniciativa privada para isso”, reforça.
Ele ainda destaca que os R$ 400 milhões a serem investidos pela iniciativa privada virão do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “Ou seja, todo o dinheiro vem do governo”, enfatiza.
A opinião do sindicalista é de que as melhorias já poderiam ter sido feitas, pois serão realizadas com dinheiro público, e são melhor resolvidas quando estão sob administração do Estado e não de empresas. “Os usuários precisam e merecem, e tudo depende de política e de governo”, conclui.
O especialista Rafael Calabria e o sindicalista Romeu Machado levantaram as principais melhorias que, na opinião deles, devem ser realizadas. Confira:
Ampliação das linhas
Inicialmente, é cogitada a ampliação do metrô para a região do Barreiro, que será a linha 2. O projeto está em andamento, com verba do governo federal, sendo que as desapropriações para a faixa de domínio já estão sendo negociadas.
:: Receba notícias de Minas Gerais no seu Whatsapp. Clique aqui ::
Segundo Romeu, essa seria a obra mais rápida e com custo moderado. O problema central é a modernização de toda a linha 1, necessária para que a linha 2 seja acoplada e funcione.
Modernização de equipamentos e trens
Cerca de 10 novos trens foram comprados em 2014. Agora, são necessárias a troca de mais 25 composições, a troca das sinalizações, a ampliação e modernização das estruturas das estações. Isso tudo pensando no melhor funcionamento da linha 1 e no início da linha 2.
Baixar preço da passagem
Em menos de dois anos, a passagem do metrô de BH subiu de R$ 1,80 para R$ 4,50. Essa é apontada como uma das principais melhorias a serem feitas. Uma tarifa mais barata depende de quanto e como o governo federal decide investir, subsidiando ou não o preço.
Integração do sistema de ônibus com o metrô
Mais uma melhoria necessária é promover a integração do sistema de ônibus de Belo Horizonte e da Região Metropolitana com o metrô. Isso pode significar ter bilhetes de uso comum nos dois tipos de transporte, ter descontos para os passageiros que usam ambos e ter estações conjuntas.
A intenção seria estimular o uso do transporte público de forma mais rápida e integrada, estimulando também o aumento do número de passageiros.
Edição: Larissa Costa