O uso de cannabis medicinal tem tido um aumento exponencial no Brasil, desde 2015, quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a importação de medicamentos à base de cannabis. Dados elaborados pela empresa Kaya Mind mostram que cerca de 50 mil brasileiros fazem tratamento com a planta, porém, prescrições poderiam chegar a 7 milhões de pessoas.
A médica neurocirurgiã Patrícia Montagner avalia que a falta de informação dentro da comunidade médica tem sido um dos principais entraves à ampliação do tratamento com cannabis. Patrícia prescreve cannabis há sete anos e é fundadora da WeCann Academy, única instituição da América Latina que realiza cursos voltados à Medicina Endocanabinoide, exclusivamente para médicos.
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“Vi que entre nossos colegas faltava o entendimento sobre essa terapêutica”, relata a médica. “O sistema endocanabinóide é um sistema fisiológico presente em todos os animais vertebrados, inclusive em nós, humanos. É ele que modula todos os outros sistemas – bacteriológico, cardiovascular, intestinal, imunológico. Na faculdade de medicina aprendemos sobre todos esses sistemas, mas não sobre o endocanabinóide”, explica.
O curso da WeCann, de acordo com a médica, tem o objetivo de democratizar e qualificar o uso do medicamento no país. Hoje, apenas 0,5% dos médicos do Brasil estudam e conseguem prescrever o uso de cannabis.
Prescrição tem de ser assertiva
Essa desatualização tem, inclusive, gerado problemas no tratamento. Erros na dosagem, na concentração do óleo e a tendência de indicar canabidiol importado são comuns entre as pessoas que procuram a Associação Terapêutica Cannabis Medicinal Flor da Vida. A organização fornece óleos de cannabis aos seus associados, mediante receita médica.
“Os médicos são aqueles em quem a maioria das pessoas confia para fazer um tratamento, então precisa de assertividade", argumenta a jornalista Ingryd Rodrigues, integrante da Flor da Vida e também diretora do Coletivo ativista Comunicannabis.
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“Eu acredito que os médicos mais inteligentes vão começar a estudar mais profundamente, porque essa é a medicina do futuro. O Sidarta Ribeiro [um cientista famoso dessa área] fala que a cannabis está para o século 21 como os remédios alopáticos estiveram no passado. Não tem como evitar. Só precisa se preparar para fornecer o melhor atendimento para as pessoas”, explica Ingryd.
Desigualdade regional
Entre os estados que atualmente têm o maior número de prescrições, estão São Paulo com 41% do número total, seguido do Rio de Janeiro, com 19%, e de Minas Gerais, com 7%. O levantamento da Kaya Mind considera as prescrições feitas de fevereiro de 2019 a dezembro de 2021, em números fornecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A desigualdade regional é latente. Pesquisa da Kaya Mind mostra que 68% das prescrições de cannabis medicinal no país aconteceram na região Sudeste. Enquanto isso, 13,6% foram no Sul, 9,7% no Centro-oeste, 6,6% no Nordeste e apenas 2% na região Norte.
Tratamentos que podem ser feitos com cannabis
“Está muito bem. Até o controle da diabetes está ótimo. As dores melhoraram 80%, graças a Deus e à Flor da Vida”, responde uma das pessoas atendidas pela Associação Flor da Vida. As respostas dos pacientes são surpreendentes.
Uma série de doenças pode ser tratada com a planta, como Alzheimer, mal de Parkinson, esclerose múltipla, depressão, ansiedade, insônia, epilepsia infantil, autismo e dores crônicas. Para encontrar um médico ou médica que estuda e utiliza a prescrição de cannabis, acesse o site da Associação Brasileira de Pacientes de Cannabis Medicinal.
Edição: Larissa Costa