Aí testemunhei muita solidariedade e muitas marmitas. Notei que eles trocam comida
Durante quase dois meses, a quebrada passou por várias reformas estruturais. Ruas, esgotos, postes, reforma da praça. Foi uma verdadeira revolução. Ano de eleição é sempre assim por aqui.
Era um mar de gente trabalhando, máquinas e barulho durante quase dois meses.
Nesse tempo, fiz várias amizades com a “piãozada”. Um cumprimento ali. Outro cumprimento aqui. Uma garrafa de água gelada. Na segunda-feira, sempre tinha a resenha dos jogos de futebol do fim de semana. Acaba que você cria um vínculo com os trabalhadores.
:: Leia mais notícias do Brasil de Fato MG. Clique aqui ::
Eles chegam muito cedo. Logo começam o trabalho duro. Meio dia, eles param religiosamente para almoçar. Aí testemunhei muita solidariedade e muitas marmitas. Notei que eles trocam comida. Um passa para o outro um pedaço de carne, de frango, de angu, ou um ovo. É um verdadeiro festival de solidariedade e risadas. Nesses quase dois meses, descobri histórias magníficas dessa nossa gente trabalhadora.
Antes de almoçar, eles me chamavam em casa. Sempre tinha uma oração. A maioria é evangélica. Tinha um mais novo e muito calado. Quase não falava. Só no último dia da obra, ele me chamou no canto para uma conversa:
- Trouxe um presente pra você.
- Pra mim?
- É. Pra você.
- Ô, meu irmão, muito obrigado.
- Não esqueci aquele corre que você fez sem me conhecer para ajudar a minha mãe lá no interior.
- Tamo aí, mano!
- Trouxe essa bíblia pra você.
- Poxa, não precisava. Muito obrigado.
- Leia todos os dias. E sempre faça um pedido.
:: Receba notícias de Minas Gerais no seu Whatsapp. Clique aqui ::
- Tá bom. Feliz demais!
Ele estava indo embora e voltou. Veio no meu ouvido e falou bem baixinho:
- Jesus te ama!
Rubinho Giaquinto é covereador da Coletiva em Belo Horizonte.
--
Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal
Edição: Larissa Costa