Hipólito da Costa, acentuou a difusão do liberalismo como eixo das mudanças radicais e necessárias
O Brasil comemora 200 anos de independência neste ano. Entretanto, perseveram ainda práticas políticas e econômicas que mantêm o país na qualidade de exportador de matéria prima e arsenal de braços humanos baratos à exploração do capital internacional.
Diante do espetacular avanço tecnológico, experimentado por nações dominantes e que nos fazem dependentes das mesmas, entendemos que as razões históricas que obstaculizam a adoção de medidas de inclusão ao desenvolvimento social devem ser buscadas nos processos econômicos e sociais atuais e de seus atores. Devem ser buscadas também na herança arraigada de um modo de pensar do povo brasileiro propenso a justificar ações interessadas apenas à elite política e econômica.
A construção de uma ideia de efetivo desenvolvimento material e social no Brasil iniciou-se, de forma mais elaborada, no alvorecer do século 19. O debate que dali emergiu opunha-se ao domínio econômico português sobre a ainda colônia, cujos objetivos centravam-se na manutenção do regime agroexportador, sem nenhuma perspectiva de alteração em médio prazo.
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Hipólito da Costa, um dos mais aguerridos opositores desse modelo, sistematizou, ao longo de 14 anos, ideias voltadas a alterar a normalidade da empresa colonial, acentuando a difusão do liberalismo como eixo das mudanças radicais e necessárias aos novos tempos.
O jornalista nasceu em 1774, na Colônia do Sacramento, território brasileiro anexado ao Uruguai após a guerra (1864-1865) entre partidários colorados e blancos e, posteriormente, com o envolvimento do Brasil em busca de proteger interesses na região platina. Hipólito da Costa atribuía à imprensa uma ferramenta perfeita para uma educação que instruísse no conhecimento das ciências naturais e da política, a fim de se alcançar condições mais elevadas de vida e de caminhar junto à sociedade rumo ao progresso.
O jornal, Correio Braziliense (1808-1822), polo de combate às forças atrasadas de Portugal, tornou-se um libelo defensor das condições próprias ao desenvolvimento social e material brasileiro. O debate das ideias liberais promovido no Correio, com vista a influir na consciência política dos brasileiros, marca o jornal e seu autor como artífice de um conteúdo educativo expressivo das ideias modernizantes da época.
O Correio autenticou a condição subalterna dos brasileiros quanto às decisões políticas e econômicas, fazendo ressaltar o conflito entre metrópole e a elite econômica brasileira, mas também legou à parte dessa elite a compreensão de que o rompimento político com a Metrópole era a solução mais viável aos empreendimentos comerciais com a Europa.
O objetivo de Hipólito da Costa, anunciado no texto inaugural com que abre seus escritos, traz as primeiras pistas do pensamento encampado por seu jornal: livre, aberto às transformações e com uma imprensa liberta de qualquer tipo de censura.
Essas características, pertinentes à militância intelectual e de engajamento às causas de seu tempo revelam, por outro lado, as matrizes teóricas presentes nas ideias e propostas voltadas aos melhoramentos gerais do ambiente lusófono, cujo caminhar estava imbricado à difusão das luzes, ou do saber amealhado no desenvolvimento da sociedade burguesa.
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Ao assumir a tarefa de espalhar as luzes necessárias ao desenvolvimento do “vasto Império do Brasil”, Hipólito definiu o papel que desempenharia no processo de construção da nação brasileira. Tratava-se, assim, de criar condições intelectuais ao combate das forças sociais que mantinham o atraso e a inoperância do corpo administrativo português, ao mesmo tempo em que apontava a possibilidade de novas relações baseadas nos princípios liberais.
A visão progressista de Hipólito da Costa, ao analisar o panorama político de seu tempo, resvalou numa forma propícia de autonomia que deve desfrutar um país que se propõe alcançar a categoria de nação próspera. Os limites do seu pensamento foram dados pela época e, talvez, pela brevidade de sua vida.
Porém, as suas ideias e o apontar dos obstáculos interpostos ao progresso material brasileiro o tornaram leitura obrigatória para a compreensão da história independente da vontade humana na sua aplicabilidade direta, mas está aí, ainda na pauta do dia como necessidade carente de realização. Aos educadores e intelectuais progressistas cabe a tarefa de fazer dela uma realidade mantendo ininterrupto o debate sobre esta urgência.
Marcília Rosa Periotto é professora aposentada do Departamento de Fundamentos da Educação da Universidade Estadual de Maringá (PR).
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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal
Edição: Larissa Costa